quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sandra

Sandra passava muito tempo tentando ser outra coisa.

Disfarçando o que era, e sendo o que não era.

Seu rosto pesava de tanta maquiagem, suas roupas chamavam atenção para os lugares mais óbvios, suas falas eram decoradas e seu olhar era vazio.

Seu emprego era o da moda, sua faculdade também. As músicas eram as da hora, e seus programas de fim de semana eram sempre agitados.

Alguns invejavam a vida de Sandra. Invejavam seu glamour, seu brilho, seu charme, seu dinheiro, seu amigos, seu namorado, seu amante, seu cheiro, seu cabelo, suas pernas, suas roupas, sua casa, seu carro... Invejavam até o rosto que ela inventava em cima do verdadeiro.

As amigas do salão de beleza mostravam os olhos queimando enquanto olhavam para os cabelos sedosos de Sandra.

A vizinha, que se escondia para despachar o bêbado do bar da esquina todos os dias às cinco horas, antes do marido chegar do trabalho, quase morria quando via o gostosão de 20 anos saindo escondido da casa de Sandra, dentro de uma BMW.

Quando Sandra ia naquelas reuniões, quase conseguia acreditar que realmente entendia daquele assunto que estavam tratando, como acontecia de acreditar que realmente gostava daqueles eventos em que era praticamente exigido o uso de um salto de 20 cm.

Mas dava pena ao notar que estava nela acreditar que o modo dela se vestir, que o modo dela tentar se manter a cima dos outros, que o jeito dela achar necessário provar que pode mais, era mais importante do que o que ela sabia, ou o que ela sentia, ou o que ela havia aprendido com seus pais...

Dava pena ao pensar que quando ela chegava em casa à noite, muito cansada, ela descia daquele pedestal onde ela achava que estava, e soltava os cabelos, tirava a maquiagem, tirava o salto, falava o que queria, se olhava no espelho, e chorava. Chorava por odiar o que ela era, e por fingir ser o que queria.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sol

É sempre o que me inspira.
O que me solta.
O que me ganha.
O calor que jamais tive, eu posso conseguir.
O brilho que jamais me deram, eu posso atrair.
E quando eu olho para fora,
E não vejo o sol...
É como se eu esfriasse...
É como se eu não brilhasse mais...
A cor fosca toma conta de mim.
E o nublado, nota-se no meu olhar.

Palavras

Ela fecha os olhos. Abre de novo.
Continua no mesmo lugar com as mesmas pessoas.
Os problemas...
Ela fecha os olhos e novamente os abre.
Os problemas continuam com ela. Dentro e fora dela.
Ela respira fundo, os outros olham para ela. Ela quase chora. Quase.
Mas daí segura as lágrimas por lembrar que não se limpa os problemas com elas, e que elas não vão levá-los embora.
Seus olhos ficam vermelhos, seu nariz arde e sua garganta dói.
Mas o coração sente uma coisa muito pior, que não passa. Não se cura.
Ela fecha os olhos. Uma única lagrima acumulada escorre. Ela seca rapidamente com seu moletom do México. Comprado no México em sua ultima viagem. No bolso, um bilhete. Lido e relido muitas vezes. Já meio amassado e manchado.
Ela pega e lê novamente. Uma lágrima pinga sobre ele, borrando as ultimas letras do “Fui embora.”.
Duas palavras. Apenas duas. Duas palavras que levaram tudo que ela tinha, ou achava que tinha. Duas palavras que trataram de deixar só agonia, solidão, desespero.
Era como se estivesse escrito pedindo para que ela não vivesse mais, para que ela não sorrisse mais, para que ela nunca mais amasse.
E era exatamente o que ela fazia.