domingo, 31 de julho de 2011

Sinto que o vento me espia.
Ele abre a porta tentando não fazer barulho.

Pobrezinho.
A desgraçada range e me faz olhar.

Mas ele é rápido e assim vai embora,
nunca pude ver sua cor.
A brisa entrou pela janela,
desviou dos meus cbelos,
chegou em meu ouvido
e contou um segredo:
é triste e gelado viver sozinho.

CÓÓÓÓR

Eu nunca soube de cor como se escreve a palavra "cor". Mas queria que fosse com acento.

Quem concorda?

Existem dois tipos de amores:
o que a gente sabe o celular de cor,
e o que a gente nunca soube.

Zig

O barulho do dedo
nas cordas do violão,
aquele que faz "zig",
me acalma.

É como se tivessem esfregado a mão
nas cordas de aço
para eu dormir.
A cozinha ainda está suja.
Será que eu escrevo por desculpa?

Essa louça toda, se eu lavar,
olha quantas ideias vai me tirar.

Não tenho como escrever lavando pratos,
a água vai manchar as letras e
deixar seus rastros.

Basta se esforçar: entendam
os escritores, pintores e compositores
que demoram a limpar.

Não é tudo planejado:
as ideias não vêm somente quando estamos
embaixo de uma árvore sentados.

Aquarela suja.

Abri uma janela em aquarela.
As cores escorriam
da rua até a favela.

É o fim dessa vida em pintura realista.
O mundo enxerga agora de outra vista.

Tudo que vejo parece arte.
Até esses meninos jogando bola à tarde.

Entristeci ao enxergar novamente,
quando limpei minhas sujas lentes.

Esses óculos imundos é que pintaram a tela,
pensei mesmo que o mundo virava aquarela.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Me sinto como uma grande concha do mar.
Que mesmo ao tentar fugir de seu lugar,
leva o maldito som junto.
Eu tento correr.
Mas como o barulho das ondas,
o palpitar do meu coração também não me deixa.
O som do nada é um pouco aterrorizante,
não se consegue a concentração para escutar.
Mas quando imagino a imagem do nada,
ao quase ver o todo branco,
logo minhas pupilas ficam pequenas.
É a necessidade que o azul do meu olho,
tem de transbordar.
É uma pena.
Esse azul acinzentado
se perde no branco.
Esse branco que é não existir.

Confesso que...

...quando eu escrevo, tento pensar como o Mário Quintana, agir como o Mário Quintana. Aposto que ele não postava em um blog. Chego até a tentar me convencer de que escrevo melhor do que o Mário Quintana. Podia agora mesmo imprimir todos meus poemas e esfregar na cara dele que eu poderia ter a minha própria casa de cultura. Seria capaz de encontrá-lo onde quer que ele esteja, aquele morto, para ler qualquer um dos meus gloriosos versos. Volto à realidade e me lembro que enquanto eu pensava em esfregar na cara dele meus escritos, eu não havia escrito nada. Percebo então que qualquer palavra minha, perto das dele, não têm nem cabimento, não têm importância, assim como um velório sem defunto.
Eu tive uma grande ideia! Esta ideia de ocupar poucas linhas.

Maldito

Falei, falei, falei, falei e falei. Perfeito. Olharam pra mim como se eu fosse louca. Tudo porque o dia passa devagar, o relógio faz aquele barulho irritante que parece rasgar lentamente os meus timpanos. Maldito tempo. Maldito tempo que não passa e me faz suspirar uns segundos vazios.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Muahaha Girls

Três pessoas e um choro. Quatro e um choro. Cinco, e ainda o choro. Com seis pessoas o choro ainda era cheio de água. Ao chegar a sétima e a oitava o choro intensificou-se. Era um grupo fechado e verde de choro: o verde de um uniforme que uniformizava a dor. Eu perguntei o que foi e uma das três primeiras respondeu: é a "vóvis". Foi o suficiente para saber o porquê de tantas lágrimas de uma, e nenhuma resposta. Vóvis era a palavra perfeita para explicar o necessário: as lágrimas eram causadas por uma dor antiga. Com rugas, mas bonita. Com idade, mas moderna o suficiente para jogar video game. Vó quando está perto faz questão de renovar-se para não ficar longe.
Dentro daquele bloco verde - sim, aquilo era um bloco inteiro, onde os braços não eram mais individuais - tinha a comoção de cada uma e um respeito natural, sem precisar pensar em como ser. Quietas, deixamos a menina que chorava descrever aquela pessoa mais linda do mundo.
Não sei se fui a única, mas ao estar naquela situação, me lembrei sobre os comentários que faziam sobre nós, as meninas. Os comentários de que somos um grupo fechado que fala mal das infelicidades dos outros e as torna abertas. Aí então me dei conta de que este grupo fechado fechou-se mesmo para esconder a dor em um bolo de carinho: ninguém precisava saber o porquê de tanto choro. Aquele "grupo fechado" pode contar com suas integrantes de modo com que nenhuma estivesse preocupada em consolar, dizer palavras bonitas e mostrar para os outros como consola bem. Era um grupo quieto capaz de entender e sentir como chorar sem receber conselhos óbvios era necessário naquele momento.
Foi então que um choro entre oito pessoas, tornou-se três choros entre oito. E estes choros continuaram sendo respeitados. Uma lembrou de sua dor pela dor da outra e aí sim acabou transbordando em lágrimas. Ninguém tentou justificar-se, ninguém tentou aproximar-se para consolar. Talvez porque tivessem medo não de um "grupo fechado", mas de um grupo mais sólido junto do que separado.
Nós estivemos juntas nas festas, HP's, recreios, almoços e estudos. Recebimentos de notas, de foras e de guampas. Recebimentos de elogios. Recebimentos de declaraçõese e presentes. Estivemos juntas na hora em que um parente nasce, na hora em que um parente passa por dificuldades e na hora em que um parente morre. Vamos estar juntas para lembrar destes parentes e ver os novos crescerem.
A vóvis vai ficar bem Iasmini.
Para todas as Muahaha Girls, todas!
Beijo gurias, amo a gente!

Envolver o útero

Eu ando caminhando sozinha com os braços cruzados. Não só pela vontade de bloquear a entrada de tudo que vem de fora interferir em meus pensamentos, mas também para manter meus pensamentos seguros somente para mim. Os braços, no entanto, não podem envolver meu cérebro e acabaram por envolver meu útero. Eu fico muitas vezes sentadas na mureta do colégio, bem em frente ao bar, tentando aproveitar aquele pouquinho de sol. Me escoro na parede mas às vezes o sol está tão timido que nem ao me ver apoiada e encolhida, consegue se aproximar. Ali então eu fico, com sol ou não, tentando observar tudo e todos: porém meus olhos caem ao chão e observam cada pedaço áspero da pedra gres. Olhar o chão áspero arranha meus olhos de alguma forma que me faz ter vontade de chorar. E essa vontade de repente rompe a minha corrente feita de braços que deixam de proteger o útero, e vão logo limpar as lágrimas quando há choro. Se não há, os braços ficam pelo útero mesmo, tentando segurar o pensamento ou sentir as borboletas no estômago. Estas borboletas no estômago são aquelas que batem as asas rapidamente, mas que esquecem de avisar que quando morrem, não garantem que deixam sucessoras. Às vezes as borboletas que nos lembram que o amor está vivo, simplesmente morrem, não deixam herdeiras e o amor é esquecido até esgotar. Então eu tiro meus olhos do chão áspero e olho para o lado procurando alguma borboleta, que já não precisava ter asas muito grandes, para engolir e segurá-la no meu útero. A borboleta poderia estar em forma de menino. Ela geralmente tinha forma de menino e o menino era um só: o que estava cansado de ser engolido por um estômago que queria as novidades e compartilhá-las a todo momento.
É por isso que estou no muro. Porque estou tentando pensar só no meu pensamento, sem ter que olhar para o lado e achar aquela borboleta. Hoje, então, não sei se é a borboleta em específico que eu preciso, mas eu ainda lembro como é bom sentir asas de borboleta batendo aqui dentro. Conhecidas, ou não. Eu quero saber se é só aquele amor que é bonito, ou que é o amor em geral que vai me fazer feliz.