terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dúvidas

Uma fila de gente,

Me interrogando por aí...

Tentando achar em mim,

O que eles querem saber

Sobre si mesmos.

*

Procuro alguma coisa,

Que não me esconderá.

Mas esse bendito poema,

Mesmo falando de mim,

Me deixa por trás dessas letras

E espaços em branco.

Nenhum vai, nenhum vem.

Num porto,

Onde nenhum barco saía,

E nenhum chegava...

Às vezes,

Eu ficava esperando por nada...

Só por saber e não me iludir,

Que um dia,

Alguma coisa chegaria...

A Camaleoa

Ela vinha com um vestido...

Sempre de cor diferente.

Os outros diziam que era sempre igual.

Mas pra mim,

Tudo nela,

As roupas dela,

E o seu rosto,

Acompanhavam a cor do dia.

*

Se eu pudesse sair correndo,

Gritando para todo mundo ouvir...

Se eu pudesse fazer isso,

Então eu poderia também sair voando.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As ruas são longas de mais,
E a chegada já não é tão boa.
Nada é confortável,
Nem aconchegante.
O frio invade cada centímetro da minha pele,
Mas o sol está tão quente...
É um frio de dentro pra fora,
E eu posso ver a cor cinza que me cerca.
O cinza triste,
Sozinho,
Me envolvendo em uma bolha de concreto.
Nome aos poemas...
Não sei se posso ou devo dar.
É tão limitado...
Que posso contradizer, em uma palavra ou frase,
Tudo que eu escrevi e queria falar.
Eu não sei se é a cor do céu...
Não sei se são meus olhos...
Mas eles vivem na mesma cor,
Da mesma cor.
Azul,
Amarelo,
Ou verde...
É sempre assim:
Juntos no vermelho,
Verde,
Na cor que há em mim.
Não sei se sou eu que vejo,
Ou se é tudo real.
Mas meus olhos acompanham a cor do céu,
Ou o céu acompanha os meus olhos.
E quando o céu estiver rosa,
Saberá que estou feliz.
E que meus olhos brilham.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Não ignore.

Por que não conseguimos abrir a cabeça?
Abrir os olhos é fácil,
Um ato simples.
Abrir os olhos, enxergar a fundo o que se vê,
E deixar tudo, tudo entrar na cabeça,
É um pouco mais difícil.
Saber deixar tudo entrar, e separar o ruim do bom,
O certo do errado,
Ainda mais complicado.
Os olhos ardem com algumas coisas que vemos,
E os ouvidos sangram quando ouvimos.
A boca fala,
E o coração sente.
É assim que vivemos,
Enganando os olhos,
A cabeça,
Ouvidos e boca.
Mas o coração,
O coração enxerga tudo,
Sente tudo e ouve tudo.
E as atitudes falam muito alto.
Até o dia em que não conseguiremos mais ignorar o que ouvimos,
E aquilo vai ficar repetindo e girando em nossas cabeças.

Ao mundo

Nem que seja pra sentir dor.
Avaliando o tempo que passou,
E nada que eu senti...
Prefiro dor e incerteza,
Do que nada.
Melhor jogada ao mundo, pro mundo,
Do que guardar o mundo inteiro dentro de mim,
Sem poder contar nada pra ninguém.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Meu lugar, meu dever.

Eu espero ele chegar todo dia. A mesa está posta e as crianças já estão dormindo para não fazer barulho. Ele não gosta de ser interrompido no jantar. Eu também não posso falar com ele. Sabe como é, tenho que ter muito respeito pelo meu homem.
A casa tem que estar com um cheiro muito bom, um aroma de flores do campo. Ele gosta tanto... Às vezes as crianças têm um pouco de alergia, mas nem dá tempo para prejudicá-las, pois logo as ponho no quarto para dormir. Elas me perguntam por que eu e ele não conversamos muito. Para ela, eu respondo que um dia ela saberá, e que vai me entender. E para ele, digo que um dia fará o mesmo com sua mulher, e que ela terá que entendê-lo.
Pobre homem o meu, trabalha tanto para nos dar esse conforto. É pouco, mas basta. Penso que não retribuo como eu deveria. Nunca estou tão bonita como as mulheres das revistas que ele guarda embaixo da cama. Ele pensa que eu não vejo seu sofrimento por não ter uma mulher tão bonita quanto aquelas. Às vezes penso que ele é muito para mim. E eu, tão surrada, tão feia, velha... Já não faço questão de me olhar no espelho. Ele também não faz mais questão de me olhar.
Eu fecho as cortinas nos fins de tarde para o sol não entrar. Ele detesta sentir calor e é intolerante quanto a isso. A luz incomoda seus olhos quando ele vai ler o jornal. Eu faço uma massagem em suas costas, sabendo que quando ele pedir para que eu pare, é porque estou sendo inconveniente.
Já estou acostumada, o dia inteiro é assim. Esperar por ele. E quando ele chega, tenho que estar como ele quiser, para ele.
Me sinto culpada quando penso em ter um tempo para mim... Eu deveria estar e ser cem por cento para meu marido, eu faço isso. Mas meu pensamento não é cem por cento nele, e isso é errado.
Um dia, – escute bem, pois minha vergonha é tanta que só falarei uma vez – eu acabei desobedecendo-o e ele acabou se irritando comigo. Disse que eu não fazia nada direito, e que já não servia mais para nada. Que nem à noite eu o satisfazia. Que eu já não tinha mais toda aquela disposição igual a que eu tinha com vinte anos, no nosso casamento. Eu me senti tão humilhada, tão injustiçada e me senti tão mal, que eu retruquei, já me arrependendo. Eu respondi para o meu homem, com total falta de educação. Ele não merecia isso, e eu não tinha o direito de deixar aquelas palavras saírem de minha boca. Mesmo assim, a briga foi feia. Não quis mais tolerar. Disse a ele que ia embora, para nunca mais voltar. Deixei as crianças com ele, pois delas eu não poderia cuidar sozinha. E eu fui.
Fiquei na casa de uma amiga que morava sozinha em um apartamento no centro. Foi o suficiente para que toda a vizinhança e parte da cidade soubesse de nosso conflito, e também para que eu ficasse mal falada. Uma mulher, casada, morando sozinha com uma solteirona em um apartamento. Quantas coisas não se podia fazer por lá?
Eu tentava ocupar meu tempo, que agora era livre, fazendo outras coisas. Lia, arrumava o apartamento de Lígia, passeava pelo parque. Mas nada disso adiantava. Parecia que havia um espaço enorme vazio em mim. Eu precisava fazer alguma coisa para mim, por mim. Mas eu nem sabia como começar.
Fui ao salão de beleza, mas lá, as conversas das moças eram todas sobre o mesmo assunto... Homens, filhos, empregadas... E falando em filhos, fazia tempo que eu não via os meus. Volta e meia eles apareciam lá na casa de Lígia, e eu dizia para que esperassem, que as coisas iam se aprumar.
Nada adiantava. Eu passava todo o meu grande tempo livre procurando algo que me fizesse feliz, algo que fizesse eu parar de roer unhas, que parasse com essa minha compulsão por servir os outros, de querer o bem estar dos outros antes do meu bem estar. Parecia que eu estava em uma guerra comigo mesma. Meu corpo cansado contra minha alma nova, que não viveu nada de prazeroso até agora.
Grande parte desse tempo livre eu pensava nele. A maioria do tempo era assim. Era a imagem dele que eu via pelos meus olhos, e algumas vezes eu fui até a janela por pensar escutar a voz dele lá embaixo. E se ele não me quisesse mais? E se ele não estivesse sentindo nenhuma falta de mim? E se eu nunca mais pudesse me acalmar satisfazendo ele e servindo ele como ele deveria ser servido?
Foi nessa última pergunta que eu encontrei o meu lugar. Toda essa aflição que eu sentia tinha apenas uma solução: voltar para ele. Assim eu me acalmaria. Fazer para ele o que ele quer, é minha paz.
Então, despedi-me de Lígia, seu apartamento também estava ficando pequeno para nós duas. Eu já estava prejudicando suas visitas de solteira. Agradeci por esse tempo todo, e ela disse que eu poderia voltar sempre que precisasse.
“Sabe, Rosana, têm algumas mulheres que nasceram com defeitos, nasceram diferentes. Mulheres servem para seus homens, mulheres devem achar seus homens. Há aquelas que não acham... Eu sou uma delas. Sou de todos eles, e eles são todos meus. Não há nenhum que me queira. Eu não me importo, pois não sou mulher para isso. Eu sou uma daquelas exceções. Você é a regra. Você nasceu para ter um homem. O seu homem. E você tem. Vá e faça o que você tem que fazer.”
Eu fui embora. Lígia estava certa. Não consigo entender muito bem como é sua vida de solteira, e porque ela quis assim. Vai ver foi o que a vida deu para ela. Pobre Lígia.
Voltei para o meu homem. Quando cheguei em casa uma moça jovem, ruiva de cabelos cacheados, muito branca e muito bela estava saindo. Poderia imaginar que ele não tivesse ficado sozinho esse tempo todo. É o que os homens fazem quando estão sozinhos. Eles não nasceram para ficar sozinhos, embora às vezes estejam. Mas eles sempre têm uma mulher para se consolar, por mais que a escondam do mundo. Essa mulher escondida, é que dá força para este imponente homem aparecer. E vai ser sempre assim. A mulher dá força sem que ninguém a veja, e o homem mostra essa força para que todos vejam.

Acorde

Às vezes eu tenho a sensação que a vida passa adormecida por mim. Eu tive que vir escrever esse texto porque, eu ia desabafar com um amigo, mas daí pensei em escrever. Mas mesmo assim, depois vou ter que desabafar com ele mesmo, porque eu não consigo guardar nada para mim, e às vezes, não é suficiente contar só para o papel.
Mesmo parecendo confuso, no momento não estou me sentindo dormente, mas sim, parece que eu estou acordando dessa dormência. As músicas tão fazendo cosquinha no meu peito... Sabe como é? Se você já escutou uma música muito boa e que te fez muito bem, você sabe o que é cosquinha no peito.
Mas mesmo assim, as vezes uma musica muito boa fica sem fazer cosquinha no seu peito. E provavelmente não é a música, mas sim, seu peito. E era disso que eu estava falando.
Quando um sol brilhante não tem mais graça, ou quando a chuva não te causa medo nem tristeza, quando você não se importa com o calor (eu sempre me importo, mas pode ser um sintoma), quando fazer nada passa despercebido, ou quando fazer tudo passa despercebido, acredite: você está dormindo acordado e só você pode se acordar.
Como? Não tenho a mínima idéia. Mas suspeito que seja fazendo alguma coisa diferente, ou ser desafiado por alguém, ou então até descobrir que alguém não te quer.
Nem que seja pra apertar o peito ao invés de fazer uma cosquinha, é bom acordar.
No meu caso, acho que foi porque fugi um pouco da rotina, e fui para a fazenda da minha família. Não to querendo achar um grande significado por trás disso tudo e surpreender ninguém. Não foi que eu descobri que a natureza é extremamente necessária, ou que eu me sinto um pedaço daquele lugar, porque tudo isso eu já sabia. Muito menos pra dizer que o planeta vai se decompor por causa do aquecimento global (porque eu nem sei se vai), nada disso. É muito mais simples: sair da rotina, sair da mesmice, sair do computador (é, verdade), sair das mesmas músicas de sempre, sair, sei lá, só a palavra sair já diz tudo.
A gente não precisa ir pra Disney, Lisboa, Londres, Paris pra sair da rotina. Só ir visitar a Tia que a gente nunca vê, ou a avó que a gente não tem muito contato... Só pra sentir, sabe, aquela cosquinha no peito que eu tanto falo. E eu falo só porque é bom, só por parecer que a gente tem a vida saltitando aqui dentro.