quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tédio

Memorizou para esquecer amanhã.
Despiu-se pensando na roupa que vestiria.
Quando viu, estava almoçando
e pensando na janta...
Já era velho.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012


Eu vi uma coruja
Em uma árvore.
Ela não era roxa,
Nem branca, nem preta.
Ela não tinha nenhuma cor.
Na verdade,
Era o galho de uma árvore.

Para expulsar a dor


Eu não escrevo mais
Eu choro o dia inteiro
Essas lágrimas de sal
Correm pelo banheiro.

Eu não consigo mais
Passar de quatro versos,
Agora tenho sete
Mas estão em aberto.

A vontade que eu tenho
É de me apagar por dentro
Ainda me contenho
E cai no esquecimento.

Eu só tenho palavras
Nem um pouco enriquecidas
Eu uso um remédio
Que me deixa esquecida.

Eu não sei mais
Fazer  tu querer  ler.
E eu não conjugo verbos
Quando eu estou a sofrer.

E dói tanto no peito
Dói como martelada
Ser tão, tão amada
E não sentir mais nada.

E é assim que eu vivo
Eu vivo como morte
E já não me importo
Se tenho azar ou sorte.

As minhas estrofes
Parecem tão largadas
É que vou escrevendo
Como se fosse nada.

Não lembro o que disse
No verso anterior
Só sei que não consigo
Mais ser um escritor.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O primeiro ateu

Amassou o pão que o diabo comeu.
Sovou tão forte que a garganta ardeu.

Passou aquela manhã toda na cozinha, 
rezou um terço pro pai, pra mãe e pra menina.

E se sentiu de repente contrariada
que era tão boa, mas foi obrigada
a sovar o pão pro diabo.

Ele merecia, coitado.
E parar consolo, ao ter pena do capeta, 
"Quando Deus não quer, Deus não deixa."

Então, se ela fez, é porque podia.
E assim era mais fácil, 
para Maria, aceitar o mal que fazia.
Assim como Juca, Amélia e Sofia.

Rezavam pro mesmo Deus 
quando matavam, morriam e surravam.
E a desculpa, logo vinha:
Deus é o mesmo pra todos.

No entanto, um dia, Maria.
Ao ver a morte da filha.
Pela bala do revólver 
de quem a menina não queria namorar.

Maria falou, não é justa essa vida.
E algo a fez não acreditar.
"Que Ele escreve certo por linhas tortas, o que!
Esse invisível, danado, hoje vai me pagar!"

Então, hoje foi ela quem castigou Deus.
Com o pior castigo que Ele teria.
Ele jamais, um dia, duvidaria.
Que alguém iria dele duvidar.

Até hoje, o diabo ri de Deus, 
agradece Maria.
A primeira pessoa que ousou
à Ele abandonar.

















Culpado

Parou e olhou
o dia que havia passado.

Não pôde sorrir,
nem suspirar aliviado.

Percebeu que aquele dia,
nublado,
resumia a vida toda.

E que não importava
se estava só ou acompanhado.

E o dia nem contava
se era terça ou feriado.

Acontece que por dentro
era todo abandonado.

E a vida toda passava
em mais um dia desperdiçado.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Hoje o dia dói em mim,
Como se muitos anos doessem.
Hoje o dia é nublado,
como se num verão
nascesse um inverno
desajeitado.
Hoje um copo quebra
como se quebrasse meu olho de vidro.
E hoje eu tive um suspiro,
como quem respira tudo de uma vez só.
Sobe, escolhe, encolhe.
Age rápido como engole
algum resquício de constrangimento.

Invade o clima de deserto,
abre a cortina
do cômodo desperto.

Deixa ecoar o tempo
que escoa.
Aproveita e coa ruim
e faz apenas o que é bom.

Sem sapatilha e sem tutu,
não dança um passo
que escolheram.
Só levanta poeira
pra quem quiser baixar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Não sei se isso está certo

Continue andando
sentindo a brisa
como o arranhão
de um gato.

Não peça carona.
Não perca o jeito
de trocar os pés
com passos de Ballet.

Deite em uma calçada,
mas não perca de vista
o além de quem está de pé.

Bata nessa boca
se quer reprimir.
Deixe a língua solta,
vão querer te ouvir.

Não ranja os dentes,
já está bem cuidado.
Como uma semente
de um pé já plantado.

Não sei pra quem dou
todo esse conselho.
Talvez eu devesse,
falar para o espelho.

domingo, 22 de abril de 2012

Palavras cuspidas

Cobiçou o olho de gato do homem da outra
e esqueceu do olho barrento do seu.
Calçou os sapatos vermelhos,
não lavou a louça, e a maquinada não estendeu.
Passou o justo vestido, cortou o comprido
e não deu oi pra vizinha.
Passou reto pelo carteiro,
pegou o isqueiro e acendeu um cigarro.
Falou que não tinha dinheiro pra pagar o padeiro
e nem passar no mercado.
O cabelo que nunca foi loiro
a moça foi lá e pintou.
E qualquer homem na rua que passa,
até quem é mudo, agora berrou!
O porteiro sempre cadeado,
abriu o portão e não se importou!
O pedreiro nem quis dar cantada,
sentou num tijolo e só lamentou.
Voltou para casa pensando no olho
cristalino de gato do marido dela.
E como a "dela" não era ela mesma,
olhou pro vestido bem sujo de barro.
O barro era do olhar dele,
do seu marido próprio, que não era amado.

terça-feira, 27 de março de 2012

Deve ser assim estar morto

Ver alguém sentir saudade e se sentir tranquilo por isso.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pra quem pensa sem determinar

As ideias se rastejam pela escada,
escorrendo de degrau para degrau,
deixando a marca no chão.

O chão de quem pisa forte,
de quem não pensa nem em vida,
nem em morte,
e sobrevive para ocupar um lugar.

As ideias, sem administração,
gastaram o novo sem nenhum destino,
ficaram ali como se fosse algo velho.

Quem quer pensar colorido,
quebrar, com a cabeça, o muro.
Às vezes esquece de lembrar.

Acaba deixando as ideias passarem.
As ideias que hoje estão no mesmo degrau
da pedra que caiu do sapato
de quem caminha sem olhar por onde.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Rápidas soluções para os problemas

Tampou o sol com a peneira e fritou-o, assim mesmo, com as nuvens.
Pediu para eu poder passar
Sem pisar no teu peito pequeno
Que não aguenta tanto peso
Quanto mais meu caminhar.

O problema não era o passo,
Mas a frequência do meu palpitar,
Que acabava deixando tão pouco,
O teu amor sempre passageiro.

Pisei, então, de leve.
Quase me fiz feito pluma.
Pulei, às vezes, alguma
tristeza que sem querer
Deixei prolongar.

Pousei então, como amiga,
Mas eu já estava de partida,
Sabendo a pontada que é saber
Que a porta ia se fechar.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

É engraçado como a Pipa dorme,
como ela se move,
como ela sonha tão alto!
Como se soubesse que seu nome
pode voar por todo o céu!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Quando fui muito triste,
Quis me obrigar a ser feliz.
Agora que já fui
Muito feliz.
Me dou esse simples,
Saudável e incrível direito.
De ser, às vezes, triste.
Às vezes, feliz.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Pôr do sol de hoje

Passei meus olhos
Em um céu laranja.
Resolvi passar meus dentes,
E mordi.

A laranja maior,
Com gosto de mundo,
Com um pouco de nuvem,
E umas pontas de chaminés.

Guardei um pedaço,
Um pouco molhado,
Mas bastante grande.
Que ideia! Manter o céu,
Embaixo de um telhado.

E sorri sem graça,
Com uns gomos nos dentes,
Na verdade era gente,
Que caminhava na rua.

Cometi o engano,
De confundir céu com fruta,
E no mesmo momento,
Eu tive altura pra devorar.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Temporal

As camadas dos prédios
foram caindo
como um pão em fatias,
em que se abre o saco
e todas elas caem para um lado.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um poema é a foto de uma parte do mundo que não está escancarada.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ovelha

Não sei se vem de todo o leite que ela toma,
ou de todos os livros que ela lê!
Só sei que toda essa força,
como eu queria ter!
É tão branca como a neve,
e fofa como uma ovelha!
Mas é tão, tão amada
por essa irmã e sua orelha!

Quadro

Eu arrastei
As nuvens pesadas.
Como se arredasse
Um sofá para limpar
A sala.

Eu vi um céu azul
Feito um quadro nu
Para desenhar
Todo um contexto.

Eu criei uma história.
Juntei fatos absurdos,
Com ocasiões incertas,
E diálogos tortos.

Mesmo assim,
Montei todo um quebra cabeça.
Uma paisagem,
Um pôster.

Fiz sol nascer.
Fiz chuva ir!
Mantive quem eu queria
Bem aqui.

Quis tirar foto.
Manter guardado.
Deixar a prova
De um dia perfeito.

Bati com cores,
Todas vivas.
O flash brilhou.
Olhei a foto,
Bem colorida.

Só que depois...
Depois toda essa vida.
Controlada,
Perfeita e construída.
Embranqueceu.

Se tornou,
Sem demora,
Um retrato preto e branco.
Cheio de nuvens,
Que não dá mais pra arrastar.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ai que bonito!

Dorme pra mim.
Me tranquiliza.
Dorme pra eu poder.

Saber.
Que o meu canto é doce
Pra ti.

Que o céu
Já vai sorrir.
Quando te ver.

Dorme.
Pra eu te acordar.
Amanhã.

Com teu sorriso
No meu rosto.
Eu vou.

Pedir pra te
Levantar.
Preparei o café.

Com doce,
Salgado
E nós.

Trocar o nome do blog?

Por que Escrevendo na Chuva?
Bom, eu já li o livro Caminhando na Chuva do Charles Kiefer sim, e não é uma imitação!
A verdade é que a ideia surgiu quando eu queria dar uma personalidade ao meu blog, que estivesse relacionada com o conteúdo ou o propósito dele. Não queria continuar tendo um blog com o meu nome, por exemplo.
Aí então, eu só coloquei no nome, o que eu já sabia: eu tinha uma vontade enorme de escrever na chuva. Isso porque eu me sinto super alterada quando chove, e antigamente (uns quatro anos atrás) eu escrevia apenas quando eu estava alterada (o que na maioria das vezes é o que começa a despertar a vontade de escrever, em qualquer pessoa).
Atualmente, eu já tenho um controle maior sobre a minha escrita (o que é ótimo, pelo menos do meu ponto de vista). No entanto, ainda tenho uns deslizes (graças à Deus, porque Deus me livre esse ser o meu auge!). Bom, o que eu queria dizer é que já passou do momento em que eu escrevia na chuva, hoje em dia já não é mais o clima que define se eu vou escrever e se vai ser bom ou não. O que define é a minha inspiração (aquelas ótimas que vem de vez em quando e não dá pra segurar) ou a minha insistência mesmo.
Era isso... E sim, estou pensando em trocar o nome do blog!
O que vocês acham?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Rir de si mesmo te dá um crédito enorme pra rir dos outros.

Nenhum nome

Era tão matemática,
Tão exata,
E tão fria.

Partiu seu próprio coração,
Em ângulos exatos,
Como pizza.

E aí então comeu
Pedaço por pedaço.
Para nunca mais sentir nada.

E dentro do estômago,
Às vezes ainda se ouve,
Uma batida bem sonora.

Ela olha,
Não se comove,
Nem chora.

Diz que o gosto é amargo.
Mas mesmo assim, não se compara.
Ao gosto de sofrer.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sorri sem alegria.
Menti por não estar à vontade.
Quase pedi para sentir dor.

Colhi uma planta ou outra,
Botei num vaso,
Mas elas não se regam sozinhas.

Curti a morte,
Que nem me tinha.
Mas esqueci de marcar meu velório.

Larguei de tudo,
Sem nenhuma mágoa.
Eu simplesmente não senti nada.

Quis colocar tudo e todos fora.
Mas para a minha surpresa
Até fazer lixo cansa.

Aí então agora escrevo,
Mas tudo no meu pensamento,
Porque papel e caneta pesam demais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Convulsão

A vista, quando se transforma,
em um arco-íris de cores,
um tanto quanto agressivas!
É sinal de que devo sentar,
talvez pensar
um pouco na vida!
E se isso não der certo,
e se todos ao redor se desesperam!
É engraçado não ver como fiquei,
só saber do que disseram!
E como é mais fácil,
não se lembrar
do que nem vi para esquecer!
E rir, agora, com os outros,
quando todos acharam que eu iria morrer.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ter a intenção de escrever é correr o risco de escrever mal ou não escrever nada. Boa noite, obrigada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Não quero nomear este

A água
que como correnteza
perde a forma de pureza.
Levar o que é sujo,
consigo sem querer.

E quando eu arrasto gente
que eu não tenho nem certeza,
se quero ou não pra mim.
Me sinto como a água,
que ao correr pela rua,
leva, às vezes, algo ruim.

Rodei, rodei,
não disse nada.
Como folha na calçada,
que se arrasta e faz
barulho, toda amassada.

Com a imprecisão de depender do vento,
termino eu, este poema,
no relento.
Porque como, como é triste,
não ter controle de mim!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Arriscados

Ótimo pressentimento têm os suicidas,
se a morte for realmente melhor do que a vida.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Eu não gosto de escrever poemas temáticos. Talvez eu escreva sobre o ano novo na Páscoa.