Cobiçou o olho de gato do homem da outra
e esqueceu do olho barrento do seu.
Calçou os sapatos vermelhos,
não lavou a louça, e a maquinada não estendeu.
Passou o justo vestido, cortou o comprido
e não deu oi pra vizinha.
Passou reto pelo carteiro,
pegou o isqueiro e acendeu um cigarro.
Falou que não tinha dinheiro
pra pagar o padeiro
e nem passar no mercado.
O cabelo que nunca foi loiro
a moça foi lá e pintou.
E qualquer homem na rua que passa,
até quem é mudo, agora berrou!
O porteiro sempre cadeado,
abriu o portão
e não se importou!
O pedreiro nem quis dar cantada,
sentou num tijolo e só lamentou.
Voltou para casa pensando no olho
cristalino de gato do marido dela.
E como a "dela" não era ela mesma,
olhou pro vestido bem sujo de barro.
O barro era do olhar dele,
do seu marido próprio, que não era amado.