Sovou tão forte que a garganta ardeu.
Passou aquela manhã toda na cozinha,
rezou um terço pro pai, pra mãe e pra menina.
E se sentiu de repente contrariada
que era tão boa, mas foi obrigada
a sovar o pão pro diabo.
Ele merecia, coitado.
E parar consolo, ao ter pena do capeta,
"Quando Deus não quer, Deus não deixa."
Então, se ela fez, é porque podia.
E assim era mais fácil,
para Maria, aceitar o mal que fazia.
Assim como Juca, Amélia e Sofia.
Rezavam pro mesmo Deus
quando matavam, morriam e surravam.
E a desculpa, logo vinha:
Deus é o mesmo pra todos.
No entanto, um dia, Maria.
Ao ver a morte da filha.
Pela bala do revólver
de quem a menina não queria namorar.
Maria falou, não é justa essa vida.
E algo a fez não acreditar.
"Que Ele escreve certo por linhas tortas, o que!
Esse invisível, danado, hoje vai me pagar!"
Então, hoje foi ela quem castigou Deus.
Com o pior castigo que Ele teria.
Ele jamais, um dia, duvidaria.
Que alguém iria dele duvidar.
Até hoje, o diabo ri de Deus,
agradece Maria.
A primeira pessoa que ousou
à Ele abandonar.