quinta-feira, 28 de junho de 2012

O primeiro ateu

Amassou o pão que o diabo comeu.
Sovou tão forte que a garganta ardeu.

Passou aquela manhã toda na cozinha, 
rezou um terço pro pai, pra mãe e pra menina.

E se sentiu de repente contrariada
que era tão boa, mas foi obrigada
a sovar o pão pro diabo.

Ele merecia, coitado.
E parar consolo, ao ter pena do capeta, 
"Quando Deus não quer, Deus não deixa."

Então, se ela fez, é porque podia.
E assim era mais fácil, 
para Maria, aceitar o mal que fazia.
Assim como Juca, Amélia e Sofia.

Rezavam pro mesmo Deus 
quando matavam, morriam e surravam.
E a desculpa, logo vinha:
Deus é o mesmo pra todos.

No entanto, um dia, Maria.
Ao ver a morte da filha.
Pela bala do revólver 
de quem a menina não queria namorar.

Maria falou, não é justa essa vida.
E algo a fez não acreditar.
"Que Ele escreve certo por linhas tortas, o que!
Esse invisível, danado, hoje vai me pagar!"

Então, hoje foi ela quem castigou Deus.
Com o pior castigo que Ele teria.
Ele jamais, um dia, duvidaria.
Que alguém iria dele duvidar.

Até hoje, o diabo ri de Deus, 
agradece Maria.
A primeira pessoa que ousou
à Ele abandonar.

















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