terça-feira, 12 de julho de 2011

Envolver o útero

Eu ando caminhando sozinha com os braços cruzados. Não só pela vontade de bloquear a entrada de tudo que vem de fora interferir em meus pensamentos, mas também para manter meus pensamentos seguros somente para mim. Os braços, no entanto, não podem envolver meu cérebro e acabaram por envolver meu útero. Eu fico muitas vezes sentadas na mureta do colégio, bem em frente ao bar, tentando aproveitar aquele pouquinho de sol. Me escoro na parede mas às vezes o sol está tão timido que nem ao me ver apoiada e encolhida, consegue se aproximar. Ali então eu fico, com sol ou não, tentando observar tudo e todos: porém meus olhos caem ao chão e observam cada pedaço áspero da pedra gres. Olhar o chão áspero arranha meus olhos de alguma forma que me faz ter vontade de chorar. E essa vontade de repente rompe a minha corrente feita de braços que deixam de proteger o útero, e vão logo limpar as lágrimas quando há choro. Se não há, os braços ficam pelo útero mesmo, tentando segurar o pensamento ou sentir as borboletas no estômago. Estas borboletas no estômago são aquelas que batem as asas rapidamente, mas que esquecem de avisar que quando morrem, não garantem que deixam sucessoras. Às vezes as borboletas que nos lembram que o amor está vivo, simplesmente morrem, não deixam herdeiras e o amor é esquecido até esgotar. Então eu tiro meus olhos do chão áspero e olho para o lado procurando alguma borboleta, que já não precisava ter asas muito grandes, para engolir e segurá-la no meu útero. A borboleta poderia estar em forma de menino. Ela geralmente tinha forma de menino e o menino era um só: o que estava cansado de ser engolido por um estômago que queria as novidades e compartilhá-las a todo momento.
É por isso que estou no muro. Porque estou tentando pensar só no meu pensamento, sem ter que olhar para o lado e achar aquela borboleta. Hoje, então, não sei se é a borboleta em específico que eu preciso, mas eu ainda lembro como é bom sentir asas de borboleta batendo aqui dentro. Conhecidas, ou não. Eu quero saber se é só aquele amor que é bonito, ou que é o amor em geral que vai me fazer feliz.

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