Nesse escuro,
Onde só eu vivo,
Achei o meu lugar.
Doce escuro,
Ninguém quer disputar.
Eu tenho paz,
Calma,
E eu sou eu,
Mesmo que ninguém consiga olhar.
Nesse escuro,
Onde só eu vivo,
Achei o meu lugar.
Doce escuro,
Ninguém quer disputar.
Eu tenho paz,
Calma,
E eu sou eu,
Mesmo que ninguém consiga olhar.
Eu sorri e disse adeus. Passou algum tempo, eu me senti como se meu olhos tivessem se separado da minha cabeça, observando tudo, sem limitações. Eu não tinha peso, e tudo parecia claro. Cores claras. Parecia um quarto de bebê.
Até que eu senti meus pés no chão. Não era como algodão, que nem eu pensava... As nuvens são parecidas com claras batidas em neve... Não me contive. Me abaixei e peguei com o dedo um pouco, botei na boca. Não tinha gosto de nada. Me aliviei, pois meus pés não ficariam grudando por causa do açúcar.
Nada parecido com o que eu imaginava, não encontrei minha avó, nem meu tio Julio. Não tinha nenhuma pessoa na entrada. Haviam ovelhas, feitas do mesmo material que havia no chão. Elas falavam, sim. Achei estranho, mas encantador.
Fiquei com medo, cheguei a pensar que lá tudo é tão diferente, que ovelhas poderiam falar, e humanos não. Ainda não tinha aberto minha boca. Abri, e disse meu nome. Sorri ao dizer meu nome. Pelo menos isso eu tinha garantido, minha boca e meu nome. Logo, as ovelhas me falaram que eu poderia esquecê-lo. Que aqui, ninguém precisaria de nome para se referir a ninguém. Bastava pensar em tal pessoa, que aquela pessoa saberia que gostaríamos de falar com ela. Sem nome, sem nada.
Num lugar tão surpreendente assim, já me imaginei vivendo perfeitamente, comendo morangos com chocolates e bebendo suco de morando todos os dias. Eu até viraria um morango. Também não me importaria, pois eu poderia falar mesmo assim. Mas daí pensei bem, e me vi em uma torta branca cheia de creme, sendo devorada por alguns mosquitos cantantes.
Lá, os mosquitos não zumbiam nos ouvidos quando se tentava dormir, cantavam uma música de ninar, muito confortante... Se dormia muito, muito... Rara são as vezes que eu me lembro de alguém de minha família, de meus amigos. Não sei quantos anos eu tinha, e o meu nome, eu realmente esqueci. Se eu tinha filhos, não sei. Eles podem pensar em mim, eu não penso mais neles...
A ovelha que governa tudo aqui, não sei por quê, não nos diz o que vêm depois de tudo isso... Assim como não sabíamos antes. Mas eu tenho uma leve impressão que nos colocam aqui dentro, com tapetes de claras batidas em neves, com ovelhas de claras batidas em neves, mosquitos cantantes e tudo mais, para nós irmos esquecendo de tudo... Devagar, sem nem sofrer. Para que um dia, eu possa voltar para lá. E ganhar outro nome, talvez. Que um dia vou ter que esquecer de novo.
Eu lá vou saber quantas vezes eu fui e voltei.
É como uma sombra,
Que ficasse sempre atrás de mim,
Me vigiando,
Ou fazendo eu pensar,
Que alguém me vigiava...
É só uma triste ilusão que eu crio,
De que tem alguém que se importa.
Eu to com medo. Não é bem medo, mas é um friozinho na barriga. É como quando saimos do nosso habitat natural para ir viajarmos com pessoas pessoas desconhecidas. Nós não sabemos como vai ser, mas sabemos que qualquer coisa que acontecer, temos uma pessoa só para contar: nós mesmos. E sabe, quando não temos outras pessoas para contar a vida é tão difícil… Na verdade, pra mim, a vida, vivida mesmo, intensamente, só existe quando se pode compartilhar com outras pessoas.
Eu, em 2010, vou sair do meu habitat natural para invadir, ou me tornar parte de um outro habitat, o habitat de outras pessoas. Não é meu, e nem natural. Pelo menos não para mim.
Vão existir aquelas pessoas que irão me acolher assim que verem que eu estarei vulnerável ou constrangida. Vão me oferecer uma boa conversa, vão perguntar da onde eu vim e o que eu faço ali. Vão existir, também, aqueles que vão me olhar torto, aqueles que não aceitam nada de fora, que são conservadores, cabeça fechada, que não são inteligentes e nem humanos o suficiente para aceitas as diferenças que sempre existiram, e sempre vão existir.
Daqueles que me acolheram, provavelmente algum ou alguns vão ficar e continuar me apoiando em outras horas necessárias. Nesse ponto, eu já os conhecerei e estarei forte o suficiente para ajudar e apoiá-los em momentos dificeis, também.
Nunca senti dificuldade para conversar com pessoas. Já senti dificuldade de pessoas para falarem comigo. Eu não me considero uma pessoa timida, ninguém me considera. Eu me considero quieta, observadora, esperando a hora de poder achar e mostrar o meu lugar. Depois que esse lugar for adquirido, o meu cérebro vai ter que fazer muito esforço para acompanhar a minha língua. Meu pai sempre disse: Eu falo de mais. Mas sei lá, eu não falo tanta bobagem… Apenas falo muito, sobre diversas coisas.
Eu sei que eu vou ter que lutar para achar o meu lugar. Mas talvez não seja tão difícil assim… Pois eu nunca precisei lutar para ser quem eu sou, eu apenas sou. E para conseguir conquistar o meu lugar, basta eu mostrar isso.
Se com isso, eu não conseguir encontrá-lo, é porque alguma coisa está errada…
Ou comigo, ou com eles.
Queria ter o céu em meus olhos.
Eles teriam o brilho das estrelas,
Teriam o formato da lua,
E eles conseguiriam ver o mundo todo,
Alegrar o mundo todo.
Eu queria ter o céu,
Com pássaros voando e cantando,
Nos meus olhos.
Voando para dentro de mim.
Eu queria ter o sol nos meus olhos,
Queimando aqui dentro.
E eles mostrariam a vida para todo mundo.
Eu queria ter o céu em meus olhos,
Todos olham para o céu,
Esperando um olhar de volta.
Eu olharia.
Minha sensação é a mais alegre e a mais comum, que se resume em três pequenas palavras: fim de ano.
Acarretado com essas três pequenas palavrinhas mágicas, vem as despedidas e as chegadas. Nos despedimos do ano, de pessoas, do barulho, do estresse, do nosso cotidiano tão apertado. Recebemos a família, um novo ano, uma nova temporada, um novo dia – a – dia que vai se tornando, depois, bem apertado também.
Sorrimos para os nossos amigos, damos um abraço e os desejamos um feliz Natal e um ótimo Ano Novo.
Reservamos hotéis na praia, ou vamos para a casa dos tios mesmo. As vezes, ficamos pelo calor da cidade frequentando os shoppings com ar condicionado.
Conversamos com amigos novos, revemos velhos amigos. Mergulhamos de cabeça na água gelada do mar e caminhamos pelas ruas do litoral gaúcho.
Temos direito a muito sorvete com cerejas. Ah, eu adoro cerejas. Damos um tchau as chuvas tenebrosas durante uma semana a fio (que perigo, que medo de parar de escrever) e damos olá as chuvinhas de verão, aos temporais e ao vento vindo do litoral. Ah, coisa boa. O mar. A areia. Os peixes. Águas de côco. A família reunida e muitas histórias para contar.
Passamos algumas boas semanas na fazenda, ouvindo apenas o cantar dos pássaros, o cheiro da terra, o vento no rosto. Estamos tão acostumados com esse barulho daqui, que nem notamos que há sempre um ruido constante. Lá, só se ouve o mugir das vacas.
O sol nasce redondo e brilhante. Amarelo, forte, laranja, imponente. Cuidado! Use protetor solar, acima do fator trinta. Outros menores, não adiantam mais.
Sugestão: Não fique tomando banho de sol por horas e horas, ele é muito forte. E um conselho: Pessoas laranjas e com câncer de pele não são bonitas. Seja como você é.
Ficamos uns dois meses recarregando toda a nossa bateria em um paraíso que permite fazermos o que quizermos na hora que quizermos. Então, chegando ao fim de fevereiro e ao início de março, nos obrigam a chegar, novamente, no início do ano, daquele ano, que já havia começado mas agora é que iriamos sentir na pele.
Por gosto ou obrigação, vamos nos adaptando a outros lugares, a novas pessoas, a novos barulhos e novos deveres. Nos adaptamos a tudo. E, muitas vezes, aprendemos a gostar de tudo. Mas enquanto o fim de fevereiro e o início de março não chega, vou me preocupar apenas com o fim das aulas e o início do tempo tão esperado.
Que venham as férias!
São Leopoldo, 18 de Novembro de 2009.
Para a Família Gusmão Britto
Nós pensamos que esse tempo nunca ia chegar. Entramos lá com a expectativa de uma infância feliz e produtiva em uma escola perfeita. Mentira, a única expectativa que tem uma criança ao entrar na escola é de saber se o escorregador da pracinha é o mais alto, se as professoras são chatas ou legais, se os colegas gostam das mesmas brincadeiras e esperam usar o caderno novo.
Fomos crescendo lá dentro, alguns com mais sorte e outros com menos, creio que os alunos que tiveram o prazer de ter aula com a Tia Adrianinha deram mais sorte, eu fui um deles, sem querer desmerecer os outros professores. Estamos lá desde a época em que pintávamos ovos de páscoa em folhas de papel, desde as simples contas de adição que na época pareciam um bicho de sete cabeças até as equações de segundo grau, estamos lá desde que nossas mães entravam conosco no colégio e diziam “Vai filhota. Boa aula.” até elas mandarem a gente sair de casa e ir pra escola e da escola pra casa, desde os trabalhos escolares e desenhos livres até os boletins cheios de notas mais ou menos. Fomos de lá, ficamos lá, estamos lá, mas não estaremos mais.
Logo que entramos, fizemos amigos dos quais levaremos pro resto de nossa vida, amigos colegas, amigos professores...
A medida que fomos evoluindo e deixando a pracinha, os desenhos livres e as “Tias” queridas, vimos também que nem tudo é tão perfeito assim... Acabamos nos deparando com algumas festas de Halloween interrompidas por palestras de história fora de hora (antes de um querido pai ir ao colégio reclamar da festa de Halloween), nos deparando com pescarias frustrantes em que em vez de pescar o peixe, colocávamos um balde em uma janela onde alcançavam-nos os brindes... Algumas dessas coisas nos decepcionaram, direção. Esperamos que melhorem, viu?
Os alunos do Gusmão viviam fazendo reclamações constantes a partir de mais ou menos a quinta série. Reclamações diferentes, diversas. Cada um com uma opinião. Se tinha alguma reclamação em comum, esta era sobre o uniforme (sem querer dizer nada, essa carinha amarela poderia ser mudada, não é mesmo?). Alguns reclamavam sobre provas de mais, uns provas de menos, outros redações de mais, outros redações de menos, leituras de mais, leituras de menos. As tias do refeitório, algumas delas, em especial, tão queridas, já foram obrigadas a escutar várias reclamações de suas comidas preparadas com tanta dedicação, já foram obrigadas a ver essas tais comidas sendo atiradas de um lado para o outro do refeitório e logo em seguida supervisoras passavam de sala em sala dando um enorme sermão pelo desperdício de alimento.
A partir da quinta série até a oitava, durante esses quatro anos contávamos os dias que faltariam para sairmos daquela prisão feliz. Nós queríamos era colocar uma carinha chorando intensamente em vez daquele cinismo amarelo estampado em nossas roupas. E as coisas foram aumentando, mais provas, mais trabalhos, menos festas (as de Halloween já haviam sido extintas há muito tempo), mais brinquedos infláveis, mais pracinhas, mais teatros infantis. Oh não! O Gusmão estava virado em uma escola para crianças. Teoricamente, o Gusmão sempre havia sido uma escola para crianças... Até a quarta série nós até que gostávamos, até que agüentávamos, até que suportávamos. E cada vez mais foram entrando mais crianças. Mais crianças e mais crianças. E nós fomos envelhecendo no meio daquela creche. Pequenas pessoas de um metro e vinte de altura correndo para cá e para lá, pulando elástico, pulando corda, batendo uns nos outros... Só nos restava sentar e chorar. Chorar por um colégio de gente decente, meu Deus! As meninas pedindo meninos mais velhos e os meninos pedindo as gurias bonitas dos outros colégios!
Sem notar, nós, os velhacos do Gusmão, fomos nos unindo e ganhando força para agüentar a piasada e tornar aquele colégio um lugar melhor, um lugar com a nossa cara, que não é amarela nem nada. Nos tornamos praticamente um só em busca de um uniforme melhor, de aulas melhores, de recreios mais longos, de palestras, de projetos culturais e esportes.
Rimos muito, conversamos muito, atrapalhamos muitas aulas, colamos em muitas provas (muitas mesmo, viu?), inventamos desculpas para aumentar o prazo de entrega de trabalhos, brigamos, empurramos pessoas, fizemos amigos, desfizemos amigos, fizemos inimigos, continuamos com inimigos. Tudo isso para conseguir sobreviver a estes oito anos ilesos. E cá estamos, no ultimo ano de Gusmão, com saudades de algumas pessoas que já saíram mas nos ajudaram a sobreviver lá dentro. Estamos nos dois últimos meses, galera!
E já ta batendo aquela saudade do que ainda não passou, mas que sabemos que vai passar.
E apesar, apesar de todos os contras, vamos levar com a gente o maior pró de todos: A Família Gusmão Britto. E ela existe mesmo. E é impressionante, como uma família comum... Não escolhemos, ganhamos e aprendemos a gostar, mesmo com todas as dificuldades e defeitos.
E por termos agüentado todos esses anos e estar conseguindo sair de lá com um sorriso no rosto eu posso dizer e afirmo: Eu amo o Gusmão Britto e vai deixar saudade!
E vocês, que continuarão estudando nessa escola pelos próximos anos: Odeiem, xinguem, julguem, briguem pelos seus direitos, cumpram seus deverem, matem aulas, vão as aulas, colem, estudem, não façam temas, façam temas, comam as merendas das tias do refeitório, não levem desaforo para casa da Tia da Limpeza do segundo andar, levem alguns desaforos para casa, respeitem os professores, acima de tudo, discutam quando tiverem razão mas não percam a educação, fiquem com os coleguinhas no banheiro (fui, pegar gente do Gusmão é brabo), mas não esqueçam e escutem os ex-gusmolinos: passa muito, muito rápido. E deixa muita saudade. E só aí que vocês percebem que querendo ou não esse colégio faz parte da sua história.
Queria citar alguns professores que marcaram positivamente as aulas daquele colégio (pelo menos pra mim):
Tia Adrianinha – Com toda a paciência e carinho para cuidar de alunos da primeira série.
Professora Marlene – Tem algumas pessoas que encontramos e nos identificamos de cara, sem nem saber o por quê.
Professor Josiel – Os professores podem fazer uma aula ser interessante, ou não. Ser engraçada, ou não. E com toda certeza, ele fez.
Professora Mara – Sempre escutou e tentou resolver os problemas dos alunos. Muito querida.
Professora Luciane – É difícil fazer alguém (pelo menos eu) entender matemática. Ela consegue. E ainda por cima, se desdobra em 140 para atender o problema de cada aluno (mesmo quando é pessoal.)
Professora Cátia – Mesmo com a implicância e o poder de me irritar, sempre tenta fazer as coisas darem certo para os alunos e tenta promover atividades diferentes.
Professora Janaína – É incrível como alguém consegue movimentar (literalmente) quatro turmas e fazer com que essas quatro turmas caiam de cabeça para fazer alguma coisa. Ela fez todo mundo dançar.
Professora Jeanne – Obrigada por não deixar só no desenho livre novamente... Nos solicitava trabalhos criativos e legais de fazer, dava valor para quem realmente se esforçava e gostava de desenhar.
Professora Juliana – Querida, compreensiva, conselheira. É tão fácil e interessante entender história quando se tem uma pessoa como essa para aprender. Ela nunca vai negar responder nada para ninguém.
Professora Juraci – Explica muito bem português. É calma e paciente com os alunos, e ao mesmo tempo tem autoridade e respeito. É outra que nunca te negará uma resposta, nem que seja para responder o que é verbo.
Tio Fábio – Por todas as vezes que ficou com nossos trabalhos atrasados, fez curativos na gente, nos emprestou o som, por nunca nos negar alguma informação e sempre nos atender de bom humor e sorrindo.
Professora Aline – Animação igual a dela na Gincana não existe. E com toda rigidez, ainda consegue ter o carinho dos alunos e exigir muito dos nossos trabalhos e ajudar a formar o que um dia nós vamos ser e vamos precisar.
Professor João – Que mesmo não estando lá há muito tempo, fala de história do jeito que se deve falar da história: contando-a. Os trabalhos que ele solicita são muito bons e legais de fazer.
Gostaria também de deixar um abraço a todos os funcionários, desde as tias da limpeza, as tias do refeitório, as tias da cantina, os secretários, as tias da biblioteca, os porteiros e aos professores que ensinaram o que eu sei hoje, porque mesmo conversando de mais nas aulas, eu reconheço que sem os professores, ninguém seria alguém.
Peço desculpa por qualquer coisa que eu tenha feito ou não tenha feito.
É difícil lembrar de um aluno no meio de tantos, mas saibam que nós alunos vamos lembrar de vocês e o que fizeram pela gente. O que eu aprendi nessa escola ajudou a construir boa parte do que eu sou hoje e do que eu vou ser. Ajudou a construir todos os alunos.
Até algum dia!
Um abraço, já com saudades,
Ana Clara Schneider Marques - Oitava Série – 2009
2002 - 2009
Quando o sol morre pra mim,
Para de brilhar
E parece não mais aquecer.
No reflexo do espelho,
Eu vejo nos meus olhos,
Uma luz...
Que ainda luta para sobreviver!
O meu sol não morre.
Sandra passava muito tempo tentando ser outra coisa.
Disfarçando o que era, e sendo o que não era.
Seu rosto pesava de tanta maquiagem, suas roupas chamavam atenção para os lugares mais óbvios, suas falas eram decoradas e seu olhar era vazio.
Seu emprego era o da moda, sua faculdade também. As músicas eram as da hora, e seus programas de fim de semana eram sempre agitados.
Alguns invejavam a vida de Sandra. Invejavam seu glamour, seu brilho, seu charme, seu dinheiro, seu amigos, seu namorado, seu amante, seu cheiro, seu cabelo, suas pernas, suas roupas, sua casa, seu carro... Invejavam até o rosto que ela inventava em cima do verdadeiro.
As amigas do salão de beleza mostravam os olhos queimando enquanto olhavam para os cabelos sedosos de Sandra.
A vizinha, que se escondia para despachar o bêbado do bar da esquina todos os dias às cinco horas, antes do marido chegar do trabalho, quase morria quando via o gostosão de 20 anos saindo escondido da casa de Sandra, dentro de uma BMW.
Quando Sandra ia naquelas reuniões, quase conseguia acreditar que realmente entendia daquele assunto que estavam tratando, como acontecia de acreditar que realmente gostava daqueles eventos em que era praticamente exigido o uso de um salto de
Mas dava pena ao notar que estava nela acreditar que o modo dela se vestir, que o modo dela tentar se manter a cima dos outros, que o jeito dela achar necessário provar que pode mais, era mais importante do que o que ela sabia, ou o que ela sentia, ou o que ela havia aprendido com seus pais...
Dava pena ao pensar que quando ela chegava em casa à noite, muito cansada, ela descia daquele pedestal onde ela achava que estava, e soltava os cabelos, tirava a maquiagem, tirava o salto, falava o que queria, se olhava no espelho, e chorava. Chorava por odiar o que ela era, e por fingir ser o que queria.