terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Eu encontrei este perdido em meus rascunhos.
não se vê em relógio.
O vento que é tempo,
se olha na onda mar.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Os miados que se vão...
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Ele é perfeito...
"A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais..."
Mário Quintana
Já aconteceu comigo. Já aconteceu de eu sentir culpa e me sentir, no fundo, bem por isso. Já me aconteceu de me sentir mais importante porque, afinal, tem alguém chateado com o que eu fiz. Me sentir culpada mostra o quão má eu posso ser, o quão fria eu posso ser e o quão eu posso achar os outros coitados. Por isso que esse papinho de dizer que se sente culpado por tudo que fez comigo não cola. Ou só sou eu que penso assim? Só eu que me sinto culpada, sinto remorso, mas uma alegria profunda em ter alguém que sofre com as minhas cagadas. E tem? Tem alguém? Já teve.
E eu não me sinto mais culpada por isso. Eu não tenho mais pena, mas já tive. Já tive porque é soa bonito dizer "eu não queria mesmo fazer isso... estou me sentindo uma idiita." To nada. Idiota, no meu pensamento, é a pessoa que tá triste por minha causa. Isso sim é grande e eu que sou a boa. A boa que fez sofrer.
É tão bom sentir pena. Sentir pena diminui o outro me aumenta muito. Eu estou sentindo pena. Eu estou achando "o fim" o que aquela pessoa sente e, então, sinto pena. Porque eu fui a culpada. Eu fui a culpada da sua ruína. Ai como é bom!
Já me arruinaram também. E, ah, como é ruim quando sentem pena. No entanto, esses momentos que me encontrei em má situação não desenvolvo muito. Porque, podem acreditar, não podem sentir pena de mim por muito tempo... Se sentirem, pegam nojo. Mas não sentem! Porque eu custo a sentir pena de mim mesma. Quando a pena vem chorar pro meu lado, eu mesmo me levanto e daqui a pouco eu estou brilhando ao sol novamente - que brega - e sentindo pena dos outros. Ah, e como é bom!
Eu ia tentar me explicar... mas e daí se não concordam?
Não sei se me entendem
Para não perder a prática e para não esquecer.
Não esquecer e deixar se perder.
Não se deixa perder um sentimento tão profundo!
Um sentimento que descreve sentimentos,
E escreve com as mãos!
No fim deste poema, escrever não é mais obrigatório.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
O abraço que empurra
Eu também tento cavar pra encontrar alguma coisa nos teus olhos, pra tentar abrir, ajeitar lá dentro, vê se tu volta a enxergar direito. Eu tento me debater, tento dançar, tento girar, rodopiar, onde eu estiver e onde tua vista alcançar. Mas nada adianta. Os olhos não reagem mais, e a cabeça só faz um gesto negativo com um sorriso amarelo na boca.
Se eu pudesse abrir teu cérebro, apagar a memória, voltar uns meses atrás... Se eu pudesse qualquer coisa, eu te fecharia dentro de mim, eu me fecharia dentro de ti e nada mais podia ser aberto. Se eu pudesse qualquer coisa... eu escolheria sofrer quietinha por te amar tanto, mas poder te amar e depois de sofrer quando não dá pra te ver, ser a pessoa mais feliz do mundo quando dá pra ver os teus olhos e os teus cílios curvos. E pretos. O mundo precisa da luz dos teus olhos pretos pra não ser tão escuro.
Eu passo o dia tentando me enfiar embaixo dos teus braços e a noite pensando se eu vou ter coragem de fazer isso. Eu passo a noite planejando ser mais grossa amanhã, ser mais dura, mais orgulhosa, mas eu nunca senti isso antes, nunca me descontrolei tanto antes: as palavras nunca são as mesmas do ensaio, e o abraço sempre vem, mesmo quando eu digo que não vou encostar. É impossível não encostar na tua pele de papel pardo. Papel pardo, mas macio.
Eu fico o tempo todo tentando cavar um abraço, que nunca surge de ti. Um abraço que, se der, eu conquisto, com esforço. Todo o meu maior orgulho do mundo se vai por um ralo que abre no meio do lugar onde eu estiver. Todo o meu orgulho se transforma na vontade de estar encaixada no teu corpo que uma vez já quis se encaixar também. Eu não sei o que sobrou pra ti, mas pra mim sobrou tudo. Sobrou cada coisa e cada não coisa. Sobrou o que aconteceu e o que não aconteceu. Acho que eu tratei de guardar até as tuas lembranças.
Eu fico o dia desnorteada pra tentar fazer alguma coisa que eu nem sei qual é, tem algo pulando dentro de mim esperando alguma coisa. Mas nada acontece. E o abraço?
Quando a gente se abraça... Quando a gente vai se abraçar, eu penso “Ufa!”. Mas a agonia não para por aí: alguma coisa nesse abraço me empurra pra tão longe...
Um longe quase impossível de voltar a ser perto, e já foi tão perto...
domingo, 14 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
Outro texto, vou me arrepender.
Tu não vai te comover com a minha saudade, por isso eu mesma me deleito com esse buraco que abre aos pouquinhos no meu peito. E fico pensando, imaginando, me torturando ao sonhar com o dia em que a saudade morra, se enterre, e tudo fique bem.
Essa saudadezinha que cozinha aqui dentro, solta um gostinho de sofrer que chega até a ser bom: eu sempre viajando, dizendo que sofrer é bom. E não é?
Eu gosto de sofrer de vez em quando... Pra depois, no futuro, comparar, ver como eu fui forte! Ver como eu amadureci! Ver como eu fiquei bem.
Mas na realidade, agora, eu quero mais é curtir minha saudade... A saudade que, pelo amor de Deus, eu preciso matar.
E depois do fim do texto, vem o desespero.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Agora foi!
E ainda mostrei para os outros.
A minha cabeça e meu coração são altamente ligados. Mas, às vezes, um desliga o outro quando um sente demais e o outro pensa de menos. Às vezes, é a cabeça que pensa demais e o coração sente demais e aí tudo é demais e aí quem chora são os olhos. Choram lágrimas de faíscas de um curto que deu ali dentro. Um curto interior que não agüenta o que vem de fora, ou o que acaba não vindo.
A gente sempre faz algo esperando em troca, porque é ser otário fazer algo por alguém sem ser gratificado. E quem é o idiota que faz algo sem querer ser gratificado. Dar por dar, é difícil. Dar amor por dar amor, sem saber se vai receber, acontece, mas dói. Porque ninguém foi feito pra se foder sozinho. Ninguém foi feito pra ceder, ceder, e nunca ser compensado.
Pensar no que se sente... Só sentir não adianta. Sentir sem saber que se sente não tem lógica. Sentir não existe, se a gente não souber que está sentindo. Por isso que amar com a cabeça existe sim. Amar com a cabeça é saber amar: saber que se ama. Só se sente se a cabeça avisar “você está amando.”. Se não tiver cabeça, você está amando, mas você não sabe, ninguém nunca te contou. Nunca te avisaram. Não tem graça.
Sentir pode não ser mais tão bonito quando se descobre que não ultrapassa todas as barreiras. O sentimento passa por uma seleção bem rigorosa da nossa cabecinha.
Quando você se apaixona a primeira vista, quem te avisa são os olhos, e onde eles estão? Na cabeça. Você ouve a voz bonita, e onde estão as orelhas? E a boca, que você tanto beija? E aquele cheiro que em vez de cheirar, você respira, é o coração que sente o cheiro?
O coração dá umas fisgadas de vez em quando e olhe lá! Aperta um pouco, mas logo afrouxa! Dói, mas nada que doa tanto assim! Nem é tão importante assim... O coração só é o responsável por aquelas ondas daquele negócio que vem não sei da onde, que parece que vão sair pela boca. O coração bate rápido demais quando eu vejo ele, e suspeito que seja o coração que faz minhas mãos suarem e depois ficarem geladas. Aquele nó na garganta que tanto falam, deve surgir de algum lugar.
Eu não sei mais como descrever, mas minha cabeça e meu coração são muito ligados. Aliás, o meu corpo inteiro se atiça e se liga quando o assunto é o teu. O meu corpo inteiro dança e libera ondas dessa coisa que arde, que faz cócegas dentro da gente. O meu corpo sabe quando ele deve ficar fervendo só de pensar em ti, e sabe também quando deve dar aquela fisgada, quando eu descubro uma coisa desagradável.
Os meus olhos não vêem o sentimento que entra e sai dentro de mim, eles não vêem a cor desse negócio que parece sair da minha boca. Só que meus olhos vêem como tudo é mais bonito e mais colorido quando a cabeça se liga ao coração e a todo o resto do corpo. Meus olhos vêem a paisagem diferente quando o corpo inteiro se empenha, naturalmente, para que o amor faça tudo ficar mais colorido.
Eu te amo com a ligação completa. O coração que avisa, a cabeça que sente, o pé que houve, o nariz que fala. Eu te amo com o corpo inteiro. Eu te amo mesmo que eu não saiba distinguir o que faz o que, porque é um sentimento tão grande, que só rege a mesma coisa. Rege um todo que só quer te amar.
Como esse texto: as palavras vêm soltas, tomando seu lugar. É a cabeça com o coração que tentam explicar o que ambos combinam tanto pra sentir e entender.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
domingo, 31 de outubro de 2010
Qualquer coisa
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Comparações
É como se dentro de mim pingasse dor.
E essa dor fosse caindo gota por gota pelo meu peito...
Escorrendo por dentro.
Pinga, pinga, pinga...
Não seca. Não evapora. Não sai do lugar, não se mexe.
Fica ali.
Pingando, pingando...
Ouço tristeza no barulho.
Barulho no meio do vazio, da escuridão. Barulho molhado.
Não é água.
São pingos daquele sentimento ruim. Daquela coisa que tranca na
garganta, que nos deixa precisando falar, mas nos obriga a calar.
E tranca lá dentro.
E continua pingando, e doendo. E doendo. Um pingo dolorido a cada palavra não dita.
E vai me corroendo. Vai me enfraquecendo.
Eu tento chorar, e não consigo.
Eu choro dentro de mim.
As únicas lágrimas que escorrem são dentro de mim.
E elas vão escorrendo, enquanto formam aquela poça, aquela poça de dor.
Poça de dor que dói, muito mais do que uma dor física.
A poça já se tornou um poço de dor.
Vinte e nove de outubro de 2010:
Faz tempo que não sinto o poço de dor.
A dor já transbordou do poço,
E saiu por aí.
Não se tranca mais no poço,
Ela quer ver coisas novas.
A dor até esquece de doer,
Está ali, vivinha,
mas livre!
Liberdade – até a dor precisa disso!
Ser livre! Para quando vem,
Poder sair.
Muitas maneiras de um poema
A dor envelheceu tanto o tempo...
Senti passar anos,
No lugar de algumas horas...
E agora vejo que, em horas,
Curei uma dor que pareceu durar anos...
O tempo passou num rápido devagar,
Que nada dói mais.
E aí vai outro...
A dor envelheceu tanto o tempo,
que ele passou rápido e já não dói mais.
Ah! Eles querem dizer a mesma coisa... to mais feliz.
Eu te amo São Francisco de Paula
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Caixotes
da minha própria janela.
Não uma janela qualquer,
a janela, essa,
que chamam de meus olhos.
Um tanto cinza, mas azuis?
Não interessa!
Eu vi que, há tempos,
vejo tudo nascer quadrado!
A Terra pra mim,
não é redonda...
E o mundo não dá voltas!
Eu vejo apenas quadrados,
umas caixas vazias,
que viram, capotam, abrem,
e de dentro delas nada cai!
domingo, 17 de outubro de 2010
Estes eu encontrei perdidos por outubro de 2010!
que fosse tão bonito,
ao ponto de te ver chorar.
Contraditório!
Porque quero é te fazer sorrir.
Tu me traz tantos confusos sentimentos,
e tantas palavras soltas,
que um poema sobre amor eu não pude te dar!
Um tanto quanto louco este poema parece ser.
No entanto, o que pode ser tão próximo da loucura,
como o amor?
Desculpe essa maneira,
tão confusa de expressar.
O meu amor é assim mesmo,
amar sem saber como.
Te amar tão forte,
isso não deve fazer bem.
Chego a querer me desculpar,
por esse meu incrível desespero!
Me desculpa só sorrir,
quando queria te falar,
me desculpar por te amar tanto.
Mas, às vezes,
Eu penso!
E lembro que frase não se começa com “mas”!
NO ENTANTO, poucas são as regras
Que seguram meu poema!
Às vezes,
Não tem forma e nem
cor.
Eu mesma acho difícil:
É possível dar valor, e ver a essência,
De algo sem aparência?
Peço, se há um leitor desse poema,
Que ele feche os olhos,
como eu fechei ao escrever.
Eu sem ser meu dono, sem ser ninguém
Procuro, procuro,
algo que eu não sei dizer,
não sei o que.
Há tanta bagunça,
e nada eu acho!
Quando meu desespero já escorre pelos olhos,
aí eu percebo: Essas gavetas não são minhas!
Esse corpo não é meu!
Eu não tenho minhas próprias gavetas,
nem meu próprio corpo,
para procurar o que nunca perdi.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
nem leia
a folha é verde e me alegra os olhos,
e o cheiro do limo me dá ar aos pulmões.
a vida por si só me dá esperança.
não sei, me deu vontade de escrever isso.
assim como um passarinho canta.
sem querer comparar essas humildes palavras,
com o canto do sabiá em minha janela.
domingo, 26 de setembro de 2010
Dormingo. Dor de dormir.
Dormir pra não doer.
O domingo traz o que se pode esquecer
durante a semana.
Trás o sono que trás o sonho.
O perigo do sonho,
que é bom mas é mentira.
Acordar no domingo dói mais
do que acordar na segunda.
O domingo, para as minhas mãos e minha alma,
dá vontade de escrever.
Não consigo.
Porque o domingo dói,
mas dói tanto,
que faz questão de deixar
todas essas palavras dentro de mim.
Essas palavras grandes, pesadas
e doloridas.
Dor de domingo nunca se cura,
essa dor na garganta que volta sempre,
de sete em sete dias.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Ai!
Ser feliz também é doer.
Para sofrer deve se sentir dor.
A dor não passa de um beliscão,
para lembrar que estamos vivos.
Viver... Essa alegria tão frágil.
Um bolo de frases
Poucos eu lembro.
Dos que escrevi,
Poucos eu lembro e destes poucos,
Poucos prestam.
Os poemas passam,
Deixam uma receita aqui dentro,
E vão embora.
Essa receita de palavras
Que uso mais tarde.
E de novo, eu esqueço!
Lá vou eu...
Folhar o livro de poemas,
Como se folhasse o livro de receitas da minha avó...
Um pedaço, por enquanto...
A Terra é tão cheia, tão linda e tão grande,
Mas de vez em quando me chateia.
Não por ser cedo, nem por ser tarde.
Não por já ser noite, ou por ser dia.
E sim, por ser o único lugar onde eu poderia.
O único lugar onde eu poderia estar...
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Borracha?
Erros surgirão e não poderei repensar.
Mostrar o que eu sinto, às vezes,
Não há chance de ponderar.
Portanto, nesse primeiro poema,
Em que não há voltar atrás,
Meus dedos imprecisos e agoniados,
Tentam conter o que a alma quer gruitar gritar.
Que medo de dizer o que não se pode,
Mas eu prometi que não iria apagar.
Essas tuas bolitas pretas
Receio que as jabuticabas
Já tenham sido usadas antes
Para descrever um olhar.
Pois bem,
Elas não vêm do mesmo cesto,
Nem da mesma árvore.
Certamente, não são as mesmas jabuticabas.
As que olham pra mim,
Não olham pra ti.
E ninguém mais
Tem um jeito tão preto e desesperador,
Mas ao mesmo tempo tão doce de olhar.
sábado, 18 de setembro de 2010
o meu xaxim
domingo, 29 de agosto de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
06:50 da manhã de sexta
E veja só! Há tempos que não tenho essa certeza! Minha vida que, tão acostumada, já não vê mais surpresas em nada! Porque nada mais é previsível, não se sabe mais nada, antes do acontecido! As surpresas são tantas, que já não são mais surpresas! Porém, hoje, meu coração aperta, provando que ainda tem alguma coisa que me avisa. E se hoje, o dia não for um morango, eu vou lembrar que de manhã eu já sabia como seria.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Um desabafo
A vida está em constantes mudanças. E a gente vive para adaptar-se à elas. Simples. Ou talvez por ser simples, não seja tão simples assim.
sábado, 31 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Sentimento!
Por sentirem as mesmas coisas,
Só um pouco diferentes!
Escrever é mostrar o que eu sinto,
E fazer lembrar do que você sente,
Mesmo que não seja exatamente igual.
Cuidado!
Só porque o reconheci como perigo.
Não seria,
Se eu nem sequer tivesse o visto.
Mas eu vi,
E isso me faz querer ver mais.
E reconhecer
O quão perigoso é não ter,
O que é para nós perigo,
Mas tentador.
Doce com dois S
O mundo é redondo.
Alguns explicam isso,
Com o futebol!
Mostram isso,
Doam suor por isso,
Doam lágrimas e sorrisos!
O mundo também é doce.
Pode ser até salgado!
Alguns entendem isso,
Com o futebol!
Que deixa gosto doce num grito de gol,
E um gosto salgado em lágrima de derrota.
Rolei em palavras, mas eu só vejo uma
Rotular, e até rota.
Li outra coisa, vi outra coisa.
Minha vida tá torta.
Era reta, mas eu não li isso.
Pelos teus brancos dentes
Ele pode
Ter tudo pra ser tudo.
Mas se o sorriso dele não nos toca,
Ele acaba tendo tudo e sendo nada.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Julho
Faz até os corações mais secos,
Pingarem feito conta gotas.
Pingam de tristeza.
Uma tristeza úmida que,
Aos poucos,
Vai virando limo
Em cada parede de um coração vazio.
sábado, 17 de julho de 2010
Lendo na Chuva
O que outros olhos querem mostrar!
Ler é pegar olhos emprestados,
E ver coisas que não conseguia olhar!
O meu próprio gelo
O frio também se dava graças às fotos que já não poderiam mais ser admiradas e lembradas. As fotos que traziam traição, pena, tristeza, dor e saudade. Mas uma saudade ruim de coisa que não volta, nem pode voltar. Não uma saudade de coisa que vai se matando com o tempo. Saudade de coisa que mata a gente com o tempo.
A cama também, com uma cara de lugar vazio que deixou saudade. Não porque era muito espaçosa, pois não era. Era porque ela tem espaço de pouco, mas que já coube tanto amor e tanto espaço no meio de dois corpos encolhidos naquele metro de largura.
O espelho talvez deixasse entrar um gelado mais doído e agudo do que o das frestas das vidraças, um gelado que me mostrava e que mostrava a mim o que eu sabia que era errado. Eu sabia que era errado jogar a roupa limpa no chão, eu sabia que era errado cultivar fotos de pessoas amargas como um chimarrão quente que eu nunca tive costume de tomar, apesar de ver todos tomando. Errado também era cultivar copos e copos de água que faltavam na cozinha e que entulhavam meu bidê. Eu sabia que no fundo daqueles copos d’água que não eram tão fundos, eu podia encontrar um resto não de água comum, mas de noites em claro regadas à copos de água que tentavam saciar a sede. E assim foi que eu descobri que a água que tem melhor gosto é a água de banheiro, sem gelo, nada de mineral e bastante simples e barata. Aquela água que preenchia um copo, daqueles de requeijão, em uma noite cheia de sal, cheia de sede. A melhor água é aquela água que a gente põe ao lado no bidê e fica tranqüilo ao pensar que não vai precisar levantar-se caso sentir sede. Água de banheiro: simples, pura e inteira.
No meu quarto eu encontrava várias coisas que refletiam várias partes da minha vida que, ainda curta, tivera momentos bastante emocionantes. Pobre de quem subestima a vida de um jovem, pobre de quem acha que viver bem é viver muito, viver direito é sobreviver até ser velho. Pobre de quem acha que a vida tem que ser gasta até o final, mas que pra isso não se pode gastá-la muito.
Então, no meu quarto, eu encontrava pedaços de papel com pedaços ou inteiros de Quintana. Eu encontrava restos de idéias que eu tinha tido no banho, mas que a água acabou por levá-las pelo ralo. Idéias que a gente repete durante o banho inteiro para não esquecer. No fim, era freqüente que eu comesse algumas palavras ao escrever.
Presentes de pessoas que não me dariam mais, e cartas de pessoas que não me escreveriam mais e também não escreveram. Fotos de pessoas que hoje já não podem mais tirar fotos e também não podem mais ser fotografadas. Fotos de sorrisos que hoje choram, mas como se faz chorar um sorriso? Fotos de sorrisos que não existem mais, e que, aos poucos, tornaram-se lágrimas.
Um travesseiro que afunda a cabeça até quase não mais fazer efeito. Um travesseiro que deixa o peso não só daquela imensa caixa que abriga um cérebro, mas de uma bola, redonda, grande e orelhuda, cheia de idéias, algumas frustradas, cair na mesma linha do colchão. Um travesseiro mole, para apoiar a cabeça que, durante o dia, só escuta, enxerga e fala coisas duras.
De vez em quando alguém entra lá. Contra minha vontade porque dar satisfação sobre quatro paredes e um banheiro, não é lá minha coisa preferida a se fazer. Muito menos dar satisfação sobre a veneziana não aberta, sobre a foto que eu não deveria admitir estar estampada em meu espelho e sobre presentes que deveriam estar queimados.
Não tenho santo, santa nem cruz alguma pendurada na minha cama. Nem sei se santo se pendura, mas, eu não tenho algum nem apoiado naquela estante cheia de retratos, cheia de bichos, de copos, de pedras e de pó. Tudo, mas nem um santo. Não porque eu não respeite santos, não porque eu ame o diabo e não porque eu não rezo. Realmente, eu não rezo. Realmente, eu me interesso muito mais pelo vermelho infernal e sanguíneo do que pelo azul bebê que, em minha cabeça, colore Deus. Mas e quem quer saber de minha cabeça? Minha cabeça pesa no travesseiro de pena de ganso que não agüenta, meus olhos vibram muito mais ao ver uma cortina de teatro de veludo vermelha do que ao ver um berço cor de azul bebê. Meus olhos vêem coisas que ninguém vê, mas que também talvez não existam. Assim como minha cabeça pensa o que existe, mas que ninguém algum dia ousou inventar. Porque tudo que é inventado já existia. Só não era reconhecido, não era mostrado, e nem descoberto. O amor já existia e ninguém o inventou. Em minha cabeça sempre correu o pensamento de dúvida: o mesmo amor de quando o descobriram, seria o mesmo amor de agora?
Tudo isso porque meu quarto é frio. Tudo isso porque é inverno e tudo isso porque eu li ontem. Eu queria ler mais, eu queria ver mais e mostrar mais. Mas é difícil saber que para começar a fazer algo, é preciso assumir que nunca se fez.
O meu quarto é frio, minhas mãos são frias e quando me deito meu pé é gelado, mas agora está dormente. Às vezes eu me sinto um iceberg, mas que nem encostou no Titanic. Um iceberg perdido, sozinho e fixado no fundo do mar gelado. Um mar gelado que vai entrando pela porta e venezianas do meu quarto. Eu tenho medo de ser o próprio gelo do qual eu fujo.
Uma vida preto e branco
Ele não tinha vida como a de quem cochilava. Ele tinha preso em si todas as cores. Mas em seus olhos as neutras. O mundo dele era preto, cinza. E muito raramente, quando queria chorar, era branco.
O véu de sua esposa tinha cinzas penduradas, entrelaçadas no meio daquele tule furado, daquele pano que mais tarde serviu para o mosquiteiro dos filhos. Os gêmeos. Nem as suas cores ele via. A menina branca, branca, branca e o menino com escuros cabelos cacheados. Os olhos doces e verdes da esposa jamais pudera ver. Ele tinha é se apaixonado pelos cílios, curvos e bem pretos. Piscavam devagar e com uma calma de acalmar qualquer um, qualquer um que não dormia há anos. Era o contrário de seus olhos que piscavam atormentados, elétricos e ligados, olhos que não fechavam, olhos que nunca viam o escuro do sono.
Ele não dormia porque não podia. Não queria acreditar que o tempo era gasto em tantas horas de sono. Ele as gastava passando um café chumbo, que o mantinha acordado. Às vezes, egoísta, acordava a esposa também. Chamava-a para conversar papos que, com sorte, eram estampados de um poá preto e branco, mas que nunca fugia do neutro.
Ela via pouco, mas ouvia muito. Ouvia as palavras ásperas e escuras como carvão, mas nunca deixara de escutar o marido. Via que seus olhos eram azuis da cor de caneta, aquela caneta que mancha a ponta dos dedos ao escrever. Um azul petróleo quase se rendendo à vida negra daquele homem. Mas ela ouvia. Mesmo assim ouvia todas as suas histórias de pescador que nunca pescou, mas que levava jeito para contar histórias longas. Ele era só um escritor.
Só? Ela não entendia. O marido passava parte das horas escrevendo textos negros em folhas brancas. Textos retos, que talvez não merecessem ser lidos. Talvez escutados, naquelas longas histórias. Ela via pouco, via pouco além de letras e palavras espaçadas. Mas ouvia muito.
Um dia ele caiu. Sem se machucar caiu na cama e afundou a pesada cabeça preta e branca no travesseiro. E sonhou, sonhou, sonhou. Tudo aquilo que ele nunca tinha escrito. Sonhou sonhos loucos, coloridos, intercalados com xícaras de café.
Ela chegou ao quarto. Não pôde acreditar no que via. Nem ele. Páginas e páginas de histórias que ela já havia querido ouvir, páginas brancas, histórias com cores. Histórias em que os tons de cor impediam uma linha reta. Histórias que mereciam ser lidas, ouvidas e contadas.
Ele não agüentou. Não sabia lidar com aquelas cores invadindo os seus olhos. Enfim pudera ver o quão bonita era a filha, ruiva, de olhos azuis e pele branca como neve, não como tudo. O filho, cabelos cacheados loiros e não pretos como o resto. Os olhos da mulher eram verdes e até tiravam a atenção dos cílios.
Ele não agüentou, mas também não teve coragem de se atirar daquela janela tão colorida. Então foi dormir, com esperança de não mais acordar. Dormiu, dormiu, dormiu.
E até hoje, esperam que ele acorde. Acorde e traga as histórias dos sonhos, as histórias que todo mundo quer ouvir, contar e ler. As histórias dos sonhos, tão coloridas, tão sinceras, as mais bonitas. Mas alguns não agüentam sonhar. Alguns não sabem ver.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Marina e o Cavalo de Asas
Marina e o Cavalo de Asas
Marina era uma menina calma, gentil carinhosa e tinha muitas outras qualidades. Mas uma das melhores qualidades de Marina é que ela acreditava, acreditava mesmo nos contos de fadas nas fábulas e na magia, ela tinha certeza, certeza que um dia uma princesa iria acordá-la, ou um lobo falante contaria histórias para ela ou um mágico de olhos puxados faria uma magia de verdade, que não fosse truque, mas ela nunca imaginou que iria ver um cavalo de asas.
- Mãe, que bom que acordei, meu despertador quebrou!
- Ótimo, Marina! Agora... Tome seu café. Anda, anda!
-Ta legal mãe, mas...Você viu a Lenita?
-Aquela gata nojenta? Não vi!
-Estranho vou perguntar pro Mauro.
-Seu irmão ainda não acordou, e nem vai acordar tão cedo.
-Mas ele tem escola!
-Só...Que ele está doente, com tosse...Mas não te interessa, vai logo pra aula, vai Marina!
-Tchau mãe, se tiver notícias da minha gatinha me diz.
-Ta bom, tchau!
Marina não podia perder a escola naquele dia, pois a professora Natália iria contar uma história.
-Bom dia professora!
-Bom dia Marina!
-Você foi a primeira a chegar, não gostaria de ir lá no pátio brincar um pouco e esperar seus coleguinhas?
-Não, não quero, prefiro ficar aqui.
-Ta bom.
-O que está fazendo professora Natália? -Ha!Estou escolhendo que história irei contar à vocês, a da Branca de Neve ou a do Pequeno Polegar, você conhece as tais?
-Sim, inclusive já li as duas, mas tenho curiosidade de conhecer a do Cavalo de Asas.
-Que bom que você gosta de ler e ouvir histórias, isso é bom na sua idade.
-E...Marina, eu acho que eu tenho o Cavalo de Asas para ler pra você antes que a aula comece?Quer?
-Claro!
-Era uma vez um cavalo chamado Arisco, e não era um cavalo normal, ele tinha asas...E...Blá blá blá
Quando Marina chegou em casa, subiu as escadas, foi ao seu quarto guardou a mochila, tomou banho, e quando ia colocar o sapato seu irmão gritou.
-Marina vem cá, tem uma mulher na minha janela com um cavalo de asas!!!
-Que?Mauro para de brincar comigo!
-Então vem cá, eu tenho a prova!
Marina foi com um caminhar leve, um suspense!
Ela abriu a porta do quarto de Mauro e...
-A!Meu Deus!Professora Natália, um cavalo de asas!
-É e o nome dele é arisco, quer dar uma volta?
-Claro!
-E o seu irmão não quer vir também?
-Quer Mauro?
-É lógico, espera que eu vou me vestir!
-E eu vou colocar o sapato.
-Ta legal!
E então foram os três viajando pela cidade com aquele cavalo cor creme e asas coloridas, Marina perguntou como a professora Natália tinha conseguido aquilo.
-É só usar a imaginação, quando chegarem em casa imaginem onde querem ir e vocês estarão lá.
Marina estava tão encantada que nem percebeu que estava imaginando tudo aquilo, quando percebeu, achava que podia ser verdade, mas ficou em dúvida, ainda mais quando viu uma pena colorida na sua roupa.
FIM!
domingo, 11 de julho de 2010
Sete dias, sete cores
Azul, na esquerda e direita,
Em todos os caminhos.
Azul pelos olhos,
Azul era o que falava,
E seu beijo era um céu azul!
Azul, o doce algodão,
Como uma Hortência na subida da serra.
Na quarta-feira era como se visse verde,
Tudo da cor do detergente
Que sua mãe lavava a louça.
Folhas respiravam por ele,
E o vento as levava.
Às vezes, aos domingos,
Não importava a cor que via,
Ele só percebia o dourado.
Dourado dos cabelos de alguém que,
Jamais,
Poderia deixar o mundo tornar-se cinza!
O dourado que ele concebia sem duvidar,
Sem pensar e sem saber.
Os fios de cabelo competiam com os do sol,
Mas quem iluminava lá dentro eram os olhos!
Os olhos da cor que ninguém vê,
Pois há tanta luz,
Ofusca a alma e o peito.
Os dias passavam e aos domingos é que se tinha ar.
Ele não queria mais saber das outras cores,
Quando se podia ter os mais belos fios de ovos!
Dourados como mel,
Doces como amor!
Um dia, chegou,
E ele já não via mais azul,
A quarta não era tão verde,
Mas os dias não eram cinzas!
As cores, diversas, misturadas,
Vieram a aparecer!
O dourado permaneceu,
Todos os dias,
Em uma coisa ou outra.
Talvez num sorriso,
Talvez no sol,
Mas sempre,
Sempre aos domingos,
Com uma força maior!
Uma força com gostinho de mel,
Cor de vitória!
Uma força chamada amor.
Que não tem dia para aparecer
E que dá lugar para tantas outras cores.
De amor que doas,
Todos os dias
À um terço,
Dessas mulheres.
Eu torço por um terço,
Que me leve ao céu,
Que me faça ver e dormir em nuvens.
Eu quero um terço.
É um amor que eu torço,
Desde que te vi,
Para ganhar!
Para me tornar um pouco gente,
Me tornar um pouco assim,
Jogada,
Mas segura,
Seja lá onde for me levar.
Um terço de amor,
Que doa todos os dias,
Para aquelas que nunca pensaram.
Aquelas que nunca pensaram em te amar,
Como eu,
Que também nunca pensei,
Só senti.
Como um véu,
Que casa o céu,
Com luz e amor.
E todas as manhãs,
O sol vem consolar,
O que a lua já levou!
Mas se volta toda a noite,
Esse céu iluminado,
Como o branco do teu olho,
Que é assim como papel!
E eu escrevo,
Cada vez que olho dentro dos teus olhos,
Linhas e linhas de amor guardado,
Gravado,
Como se fosse um poema,
Num papel branco,
No fundo do teu olhar.
Contra
Pelo que se pouco conhece,
E não muito se sabe!
O céu estrelado,
Um escuro iluminado.
Para lembrar,
As doces contradições.
Amor,
Tão contraditório quanto a vida,
Que precisa da morte,
Pra se tornar tão especial.
Assim como correr em círculos,
É tão quadrado como uma rotina redonda,
Onde sorrisos e tristezas,
Não valem mais.
Alvo
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Caos
e eu já não espero mais!
Nem o medo vem,
Mas a tristeza vai!
A vida é um caos,
Um dia a gente pensa em um,
e outro dia a gente pensa em outro!
Viver cada dia,
como se fosse a vida inteira!
É complicado,
é correr contra o tempo!
Quer saber?
Correr contra o tempo,
se não ele corre contra a gente!
Metralhando palavras
Pra poder voltar,
não esquecer do passado!
Não é tudo calculado,
Mas também não é errado!
Só uma precaução,
pra saber por onde vou!
Um dia chegou,
Eu já não sabia mais,
meu relógio até parou!
O vento levou,
O tempo, nem sei mais!
Passado, presente, futuro,
um mesmo tempo em tudo!
Mesmo assim,
ninguém se respeita mais.
Ou o respeito já foi,
Ou é por ele que ainda estamos a esperar!
Das cores
Verde quando quer,
Azul quando ele pode!
Eu vejo as folhas verdes,
Fazendo cócegas no céu!
Eu sorrio!
Se eu quero,
Eu posso!
Enfeitar o meu sorriso,
Das cores que eu quiser!
Cor de planta e cor de céu.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Enjoo
Tenho enjoado do fim de semana, dos dias de semana, da vida, da morte, do sol, da chuva, da vida, de novo. E de novo, e de novo.
É normal? Normal notar que a vida se repete e a gente tem que achar graça todos os dias?
Não to conseguindo achar mais.
E eu procuro, e procuro.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Mais um desses
“Hoje eu quero sair só.” O Lenine mais uma vez está certo, porque às vezes parece que a gente deu um nó.
A gente dá vários nós pela vida, e também desata eles. Atando e desatando a vida vai acontecendo e se desencadeando em um esperado final, se não feliz, pelo menos completo. A gente vai procurando o complemento, o significado, alguns sorrisos e algumas lágrimas. Às vezes sentimos saudades até de chorar, mas quando a saudade é de sorrir é porque algo está errado. E é normal alguma coisa estar errada. Nunca tudo está certo. Nunca tudo é perfeito e a palavra perfeito não deveria existir, já que nada tem a honra de ser abençoado pela tal palavra.
Agora me inspirei. Até me sentei direito para não doer às costas. Se para você, a dor de ler é muita, não precisa não. Nem todo mundo sente ou gosta do que eu escrevo.
Eu sempre refleti muito sobre as coisas, sobre a vida, a minha e a dos outros. Já refleti sobre a minha vida em relação aos outros, vice-versa, e também sobre a importância da minha vida, seja ela para o mundo ou para outros habitantes. Com isso, algumas vezes chego a parecer louca, viajada, deprimida e sem nada pra fazer. Isso é um grande problema: pessoas adoram rotular. Colocam rótulos, geralmente, em coisas que não entendem. Um assunto ou uma atitude nunca é tão simples para ser rotulada em uma palavra, em um adjetivo, ou até mesmo em um gesto. Tudo merece um tempo para ser considerado, ou não ser considerado. Rotular é muito fácil, é muito simples, é muito nada. Quem rotula é burro. Isso seria rotular, não seria? Rótulos são para quem vive de momento, para quem só capta o momento e não tem capacidade para repensar sobre algo que já passou.
Voltando ao Lenine (já disse isso em algum texto antes, mas Lenine é Lenine). Às vezes eu tenho vontade de sair só, que nem ele, que nem todo mundo deve ter. Voltando do colégio me dá vontade de ficar perambulando pelo meu bairro, que é quietinho, perigoso, mas quietinho. Tem sol, tem chuva, tem nuvem e tem vento. É bonito. É cinza chumbo quando não é amarelo, mas às vezes está azul. O tempo muda e em todas as estações eu tenho vontade de ficar perambulando, me entregando ao pouco das árvores que sobraram na cidade. Trágica. O bairro tem muitas árvores.
São nesses poucos passos voltando para casa que eu penso o quanto a vida é simples e a gente complica tanto. Vai ver é isso, complicar pra não enlouquecer. Ou enlouquecer um pouco para não enlouquecer demais. Porque se for pensar, tudo é meio louco mesmo. Se for pensar, pensar mesmo, você fica pensando até nunca mais parar. O negócio é viver. Às vezes, sim, filosofar. Mas eu filosofo demais. E sim, eu comecei uma frase com “mas”.
Não quero terminar o texto.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Cinco horas
Fim de tarde,
O dia está verde!
Eu me sinto presa,
Em uma dessas garrafas de vinho,
Um tanto esverdeadas...
E ouvindo ,apenas,
o barulho dos meus pensamentos!
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Um grãozinho no deserto.
O mundo é redondo. E as pessoas são quadradas, portanto, como elas iriam se encaixar, um dia, nas beiradas do mundo? Talvez seja por isso que às vezes a gente acaba se aglomerando com as pessoas, em alguns cantinhos quadrados, pra gente tentar vencer as rodas do mundo! O mundo gira! Gira devagar, sorrateiro, mas quando a gente vê a gente já foi junto.
Homens. Ir junto me lembra de homens. Te lembra também, não é? Felicidade e tristeza. Oscilações de humor e, em algumas frestas, muitas lágrimas. A vida é dura, mas tudo precisa ser duro para funcionar! É... A gente tem que bater de frente e quanto mais calejado a gente fica, melhor a vida anda. Ou cada vez pior. Mas serve de consolo que cada passo dado com dificuldade é mais um dado com tranqüilidade? Sim, isso soou mal porque eu nunca li isso, nunca ouvi, apenas criei, agora, baseado em algumas coisas que eu já vi e vivi antes.
Lágrimas. É bom. A melhor coisa, depois de poder sorrir, é poder chorar. Nenhuma palavra pode explicar tudo que um choro transmite. Não há nada que limpe mais a alma do que algumas horas de choro intermitente. Chorar é a glória! É a maior comprovação de que a gente meteu a cara em alguma coisa, é a comprovação de que a gente sente alguma coisa. Eu digo isso porque quantas vezes eu já quis chorar, sem saber o porquê, mas não consegui. Geralmente quando isso acontece, a gente acaba descobrindo mais tarde o porquê de tanta agonia.
Vida. Não tem como definir. Tudo que eu escrevi anteriormente, é uma forma de tentar falar sobre a vida. Porque não importa sobre o que a gente esteja falando, a gente vai sempre tentar metê-la no meio. Que porcaria é essa que nos intriga tanto?
Amor. Sem ele não existe vida. E não pelo lado bonitinho e meigo de dizer que as pessoas necessitam de amor, e que não vivem sozinhas. Não que isso seja mentira. Embora isso soe estranho e frio, as pessoas apenas se apaixonam para a reprodução. Se apaixonam, sentem algo incrível enquanto estão juntas e se beijam, simplesmente por uma única razão: procriação. Mas o ser humano sempre vai dar um jeitinho de buscar mais além, de tentar descobrir a razão das coisas e mudar o real objetivo de as coisas acontecerem, como tudo na vida. A gente tem mania de adaptar a vida como nos convém, pelo que parece e não pelo que realmente é. E o mais complicado e que possivelmente dará um nó na sua cabeça é a seguinte pergunta: Será que não é pra ser assim? Será que o objetivo não é fazer a gente tentar achar uma razão para tudo, mesmo não havendo razão alguma?
Loucura. Eu fico um pouco assim quando me decepciono, ou quando recebo uma notícia que eu não quero. Parece que o mundo não existe mais, parece que ele me repugna e, o mais importante, parece que o único local que existe é o lugar onde eu estou, e que eu não posso fazer nada, e que tudo não vai nem vem, que tudo está acabado mas que não tem como acabar. A sensação é que eu não posso viver mas também não posso morrer. A sensação é de barata tonta. Eu ainda continuo como uma barata tonta.
Felicidade. Cada um tem a sua. Cada um faz a sua definição de felicidade com quem quiser. Eu ainda não sei bem o que é. Acho que viver em busca disso já é uma forma de ser feliz. Deve ser algo parecido com ter quem a gente gosta, ter dinheiro para poder viver bem, morar no lugar que se gosta, trabalhar no que se gosta, ter animais, ter todas essas coisas boas por perto. Mas sempre falta alguma coisa, né? Eu acho que felicidade é sempre ter algo mais a procurar, não ser completamente feliz.
Palavras. O melhor jeito para se expressar. Sendo elas escritas ou orais. Mas eu prefiro escrever em algumas horas. Pra mim. Se eu falar, não vou poder reler. Prefiro escrever e reler. Eu agradeço por poder escrever. Não sei para quem agradecer, acho que para mim. Tirar um peso gigante das minhas costas por meio de palavras todos os dias, ou quase todos os dias, é algo inexplicável.
Amigos. Sempre me fazem pensar. Não existe definição de amigo porque cada um tem um jeito. Mas o mais importante é ser alguém parecido com você e ao mesmo tempo diferente. Mas dentro desse parecido, tem que ser alguém sincero assim como eu, alguém leal assim como eu. E dentro desse diferente, tem que ser alguém mais paciente do que eu, alguém mais compreensivo do que eu. Eu agradeço muito à Paula, ao Kievel, à Ro e ao Marcos, principalmente.
Família. Todo mundo tem seus momentos de crise com seus familiares. É normal. Família que não briga não é família. Família de propaganda de margarina Doriana não existe. Se existe, meus pêsames. A minha é do tipo propaganda de cerveja Polar. Não é a mais politicamente correta mas é a família que me ensinou a ser quem eu sou, gostem os outros ou não. Me ensinou, pelo menos, a tentar saber quem eu sou e o que ser. A saber o que eu acho certo ou errado. Não é o tipo de família protetora ao extremo, porque eles sabem que agora, eu vou poder chegar em algum lugar e dar a cara pra bater, ou evitar isso. Também não é a família mais desastrada do mundo. Mas com toda a certeza, é uma das famílias mais alegres. Sem perfil de propaganda de margarina, muito menos de fralda!
Lugares. Se eu precisar dizer qual é o primeiro lugar que vem na minha cabeça você não me conhece. E eu espero que você não me conheça, porque eu não quero que só pessoas que me conheçam olhem o meu blog. A fazenda Xaxim me dá toda a liberdade do mundo, me dá ar, me dá brilho e me dá o mais importante de tudo: o contato mais próximo com o passado e vivido e não vivido. Traz uma saudade boa sobre o que já foi, e uma expectativa enorme sobre o que virá. Se há um lugar no mundo pelo qual eu lutaria até morrer, é este.
Música. Está ligada à vida, aos amigos, principalmente à família e ao Xaxim. Música é o sal das coisas. Sem música, tudo fica sem gosto.
Eu vou continuar escrevendo, sempre. Talvez não no mesmo texto, não no mesmo tempo, não na mesma situação, mas sempre escrevendo sobre a vida, sobre as pessoas, porque isso é e sempre foi o que mais interessa. E não diga que não! Porque tudo que se pensa, tudo que se faz, por tudo que se ri e por tudo que se chora, é apenas um pedaço da vida. A gente, cada pessoa no mundo, não passa de um grãozinho de areia no meio do deserto! Porque o deserto precisa de todos os grãos, iguais, pra existir. E você acha que o deserto se interessa pelo o que os grãozinhos estão chorando ou sorrindo? Apenas faça o que você tem vontade de fazer, pra si mesmo, nunca atrapalhando os outros. Faça pra si. Porque o mundo é muito grande para você ser notado, para você ser especial. Ninguém é alguma coisa sozinho. O mundo não dá bola para alguém sozinho, pois para nada adianta! Assim como um deserto não é feito de um grão só...
terça-feira, 25 de maio de 2010
QUASE
que quase tudo aconteça,
do que tudo acontecer!
Quase acontece muito mais...
Quase é quase!
Quase é tudo!
E eu to aqui,
quase enlouquecendo...
Mas ainda não é enlouquecer!
Diferente
que a tristeza,
é um poquinho melhor que a raiva.
Traz calma,
enquanto não chega a agonia.
E, mesmo da pior maneira,
é de paz que eu preciso!
Parece que a tristeza me acolhe,
Enquanto a raiva me atira pro mundo!
quarta-feira, 19 de maio de 2010
A Frase
No entanto, fiquei aqui esticando o nada enquanto você lê muito menos! E enquanto a frase não vem esqueça os meus textos, que tentam dizer tudo mas não dizem nada.
Enquanto isso, vou tentando escrever algumas frases inexplicáveis, mas que talvez possam ser entendidas...
É a vida...
terça-feira, 11 de maio de 2010
Escrevendo na chuva, novamente!
Talvez porque tudo, ultimamente, para mim, anda fazendo sentido demais! Tudo tem um por quê a cada segundo e a cada manhã lotada de cadernos e livros e muito, muito aprendizado!
Sentar na primeira cadeira da fila da sala de aula já não é uma eventualidade para mim. Agora, a minha preferência e meu objetivo maior é me dar muito bem, e aprender muito. Mas isso, de repente, pode causar alguns sintomas como estresse, TPM enfatizada e como conseqüência disso tudo couro cabeludo repuxado. Sabe como é?
Quando eu estou estressada meu couro cabeludo parece que está sendo repuxado constantemente, vinte e quatro horas por dia.
Veja! Agora que notei! É chuva! Estou escrevendo na chuva, novamente! Depois de tanto tempo!
Voltando para o couro cabeludo. Uma das formas de aquietá-lo é entrar no chuveiro quente e ficar por ali, deixando suas quase lágrimas se misturarem com o vapor e a água. Não sei se por vingança, mas quando sai do chuveiro e fui enrolar meus cabelos na toalha, o maldito couro cabeludo se revoltou e deu uma chicoteada de cabelos no meu olho! E como dói! Chicoteada molhada, então!
Vejam, então, o meu estado: TPM, sacrifício extremo para tirar algumas notas boas, estresse, couro cabeludo repuxado, e mais, sensação de que o meu grau de miopia aumentou!
Vejam, então, a situação das pessoas que convivem comigo: São massacradas, por mim e por meus cabelos revoltosos, a todo o momento!
O estresse faz com que eu me odeie e que todo mundo me odeie. A TPM faz com que eu chore por isso, pelos outros e por mim mesma. Além disso, a bendita faz com que eu pense que ninguém gosta de mim. E alguém gosta?
Sabe, eu espero que dessa vez a chuva venha trazer esperanças. Espero que ela traga em suas gotas e nas suas águas arrastadas aos bueiros, muitos poemas, textos e histórias.
E eu termino mais um texto dizendo que eu to com fome... Pra falar a verdade, não sei se já citei em algum texto que eu estava com fome, mas o que interessa é que eu estou sempre com fome.
Desejem então que, nesse inverno, nessa chuvarada, eu escreva muita coisa legal e boa pra vocês lerem.
Beijos.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Saudade
que nos deixa seqüelas.
Não há remédio,
Nem mais esperança.
Ao menos,
Deixou um pouquinho para matar as saudades.
Daquilo que já foi motivo de morte,
Mas que agora,
Não é mais motivo de vida.
Venezianas
Mas ninguém vê,
A vista que quero mostrar!
As minhas janelas particulares,
São pelas que mais gosto de olhar!
Além do que se vê
O que vejo com meus olhos.
Um pássaro que pousa em um fio,
Encanta uma manhã inteira,
Cantando!
Mas será que eu vejo,
O que todo mundo vê?
"Tá ficando claro"
Claridade entrando em meus olhos,
Como a escuridão que entra em meu peito.
É esse preto e branco triste,
Que me faz chorar lágrimas cinzas.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Filho da Puta
soterre o meu corpo e a minha alma.
Essa desgraçada,
me corroe por dentro,
mas me deixa deixa aguentando,
bem vivinha.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Dezenas?
Dias eu escrevo.
Escrevo os dias,
De dez em dez.
Escrevo, então,
De dez em dez dias.
E são nessas vinte e quatro horas,
Que eu respiro de verdade.
As outras tantas,
Alimento-me do que restou,
Uns pontos e umas vírgulas...
Sussurros e cochichos!
E me dá a sensação,
De que o sol,
O vento e a chuva...
Observam-me e me contam
Mais algumas coisinhas sobre eles.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Meu papel em branco
Não me é triste
Quando calam minhas palavras.
O que me preocupa é outra coisa.
Não acho em teus livros,
Nem em tuas páginas soltas.
Teve também, algum momento,
Sem ter palavras a calar?
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Além de tudo isso!
E ainda acham,
Que o mundo gira em torno disso.
E quem não têm,
É que sabe,
Que o mundo é muito maior,
E muito mais bonito,
Pra girar em torno de um umbigo!
domingo, 28 de março de 2010
sábado, 13 de março de 2010
sexta-feira, 12 de março de 2010
Girassóis
O vento
Gira tudo.
Sem dó nem piedade,
Piedade ninguém tem.
E volta e meia,
Eu ainda encontro,
Algum sol ou nuvem,
Girando por aí,
Por ninguém.
Das Tuas Cores
Fazia cócegas,
O pincel que coloriu,
As paredes do meu peito.
E eu sorrio,
Toda vez que te vejo.
Como se estivesse terminado de pintá-lo.
Minha Música
E quando eu chorar,
Com uma música bonita.
É porque eu estou voltando,
À minha música diária.
terça-feira, 9 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
Doloridas e doces memórias.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Do outro lado
Estando dentro, tudo é muito comum.
Sentir na pele,
É diferente de sentir com os olhos.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Já pensou que pode ter matado alguém hoje? Leia esse texto!
Não limpou direito a casa e deixou pó no pano do sofá.
Joana deitou no sofá.
Espirrou.. Chorou.
Rinite.
Dona Linda levou Joana no médico.
No caminho do médico, Dona Linda atropelou um carteiro.
O Carteiro morreu.
E deixou dividas para os filhos.
Os filhos, ainda não adultos,
Começaram a trabalhar muito cedo.
Juquinha, o filho mais velho, conheceu Rosana no trabalho,
Tiveram um filho muito cedo, Roberto.
Roberto não teve muita educação. Os pais eram novinhos demais,
Não davam conta.
Roberto pegou um trem para uma cidadezinha ali perto.
E Tatiana pegou o mesmo trem.
Tatiana usava brincos grandes de ouro.
E dava pra ver de longe.
Perdeu os brincos.
Roubaram seus brincos.
Roberto trocou-os por muito dinheiro em uma lotérica.
A mãe de Tatiana ficou muito brava por ter pego suas jóias sem permissão.
Tatiana entrou de castigo e não pode ver Carlinhos na quarta.
Na quinta, Carlinhos já estava com Julia.
Julia começou a namorar com Carlinhos e tiveram gêmeos.
Os gêmeos cresceram e viraram uma dupla de rock muito famosa.
Maria acordou novamente preguiçosa.
Na noite anterior havia olhado filmes até tarde.
Para esperar seu filho João que estava em uma festa.
E João chegou tarde, porque perdeu o ônibus.
Porque estava ajudando uma velhinha a atravessar a rua.
Pois quase ninguém respeita a faixa de segurança.
Assim como Dona Linda, mãe de Joana.
Que atropelou o carteiro.
Porque Joana estava com rinite.
Por causa do pó que Maria havia deixado no sofá...
Por seu filho ter chegado tarde...
É, a culpa é uma coisa muito relativa...
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Assim seja
Qualquer esperança
De amor que eu tinha.
Porque amor não se espera,
Se vive.
E que seja assim.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Futilidade
Quem se sentir apto para ler e discutir sobre futilidade, continue.
Quem quiser ser um exemplo de futilidade, candidate-se e conte sua histórias superficiais.
Quem me odeia ou odeia o que eu escrevo, o que é muito dificil, saia. Ou fique, também. Porque temos que conhecer muito uma coisa para poder falar mal dela.
E futilidade é uma coisa que eu conheço. A dos outros, óbvio.
Perder tempo é a maior perda de tempo que pode existir. Perder tempo com um trabalho sem sentido, com uma discução desgastante, com um texto ruim ou um filme muito ruim é frustrante. Agora, perder tempo com futilidade é... Muito pouco.
Se preocupar enlouquecidamente com a aparência e com o que você vai mostrar para os outros é loucura. Assim como se preocupar com o que você vê dos outros. Ambas coisas são uma perda de tempo gigante.
Falando tudo isso, parece que estou dizendo o óbvio. Mas como diz meu pai, o que pode ser óbvio para mim pode não ser para outros. E certamente isso não é óbvio para pessoas fúteis.
Você é fútil?
Alguns sintomas de futilidade:
-Se importar mais com sua aparência do que com o que tem por dentro (sintoma básico e mais comum)
-Se preocupar com o que os outros vão pensar, e não com o que você pensa.
-Não pensar mais no que você pensa, pensar no que os outros pensam. (Estágio grave).
-Cobrar dos outros as mesmas coisas que cobram da sua aparência. (Fútil metida)
-Pensar pouco.
-Muito pouco.
-Não pensar mais.
-Começar a ficar parecida com a Barbie.
-Virar a Barbie.
E então, você é fútil?
Se ficou na dúvida, sim, você é fútil.
Se conseguiu descobrir, parabéns. Você ainda tem salvação.
Se se identificou com todas as coisas mas não lembra mais quais eram, já está pronta para namorar o Ken.
Boa noite, vou retocar a maquiagem.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
i can't
talvez demore meses...
talvez eu morra sem escrever uma palavra sequer!
é melhor do que escrever por escrever...
tchau
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Dúvidas
Uma fila de gente,
Me interrogando por aí...
Tentando achar em mim,
O que eles querem saber
Sobre si mesmos.
*
Procuro alguma coisa,
Que não me esconderá.
Mas esse bendito poema,
Mesmo falando de mim,
Me deixa por trás dessas letras
E espaços em branco.
Nenhum vai, nenhum vem.
Num porto,
Onde nenhum barco saía,
E nenhum chegava...
Às vezes,
Eu ficava esperando por nada...
Só por saber e não me iludir,
Que um dia,
Alguma coisa chegaria...
A Camaleoa
Ela vinha com um vestido...
Sempre de cor diferente.
Os outros diziam que era sempre igual.
Mas pra mim,
Tudo nela,
As roupas dela,
E o seu rosto,
Acompanhavam a cor do dia.
*
Se eu pudesse sair correndo,
Gritando para todo mundo ouvir...
Se eu pudesse fazer isso,
Então eu poderia também sair voando.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
E a chegada já não é tão boa.
Nada é confortável,
Nem aconchegante.
O frio invade cada centímetro da minha pele,
Mas o sol está tão quente...
É um frio de dentro pra fora,
E eu posso ver a cor cinza que me cerca.
O cinza triste,
Sozinho,
Me envolvendo em uma bolha de concreto.
Não sei se são meus olhos...
Mas eles vivem na mesma cor,
Da mesma cor.
Azul,
Amarelo,
Ou verde...
É sempre assim:
Juntos no vermelho,
Verde,
Na cor que há em mim.
Não sei se sou eu que vejo,
Ou se é tudo real.
Mas meus olhos acompanham a cor do céu,
Ou o céu acompanha os meus olhos.
E quando o céu estiver rosa,
Saberá que estou feliz.
E que meus olhos brilham.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Não ignore.
Abrir os olhos é fácil,
Um ato simples.
Abrir os olhos, enxergar a fundo o que se vê,
E deixar tudo, tudo entrar na cabeça,
É um pouco mais difícil.
Saber deixar tudo entrar, e separar o ruim do bom,
O certo do errado,
Ainda mais complicado.
Os olhos ardem com algumas coisas que vemos,
E os ouvidos sangram quando ouvimos.
A boca fala,
E o coração sente.
É assim que vivemos,
Enganando os olhos,
A cabeça,
Ouvidos e boca.
Mas o coração,
O coração enxerga tudo,
Sente tudo e ouve tudo.
E as atitudes falam muito alto.
Até o dia em que não conseguiremos mais ignorar o que ouvimos,
E aquilo vai ficar repetindo e girando em nossas cabeças.
Ao mundo
Avaliando o tempo que passou,
E nada que eu senti...
Prefiro dor e incerteza,
Do que nada.
Melhor jogada ao mundo, pro mundo,
Do que guardar o mundo inteiro dentro de mim,
Sem poder contar nada pra ninguém.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Meu lugar, meu dever.
A casa tem que estar com um cheiro muito bom, um aroma de flores do campo. Ele gosta tanto... Às vezes as crianças têm um pouco de alergia, mas nem dá tempo para prejudicá-las, pois logo as ponho no quarto para dormir. Elas me perguntam por que eu e ele não conversamos muito. Para ela, eu respondo que um dia ela saberá, e que vai me entender. E para ele, digo que um dia fará o mesmo com sua mulher, e que ela terá que entendê-lo.
Pobre homem o meu, trabalha tanto para nos dar esse conforto. É pouco, mas basta. Penso que não retribuo como eu deveria. Nunca estou tão bonita como as mulheres das revistas que ele guarda embaixo da cama. Ele pensa que eu não vejo seu sofrimento por não ter uma mulher tão bonita quanto aquelas. Às vezes penso que ele é muito para mim. E eu, tão surrada, tão feia, velha... Já não faço questão de me olhar no espelho. Ele também não faz mais questão de me olhar.
Eu fecho as cortinas nos fins de tarde para o sol não entrar. Ele detesta sentir calor e é intolerante quanto a isso. A luz incomoda seus olhos quando ele vai ler o jornal. Eu faço uma massagem em suas costas, sabendo que quando ele pedir para que eu pare, é porque estou sendo inconveniente.
Já estou acostumada, o dia inteiro é assim. Esperar por ele. E quando ele chega, tenho que estar como ele quiser, para ele.
Me sinto culpada quando penso em ter um tempo para mim... Eu deveria estar e ser cem por cento para meu marido, eu faço isso. Mas meu pensamento não é cem por cento nele, e isso é errado.
Um dia, – escute bem, pois minha vergonha é tanta que só falarei uma vez – eu acabei desobedecendo-o e ele acabou se irritando comigo. Disse que eu não fazia nada direito, e que já não servia mais para nada. Que nem à noite eu o satisfazia. Que eu já não tinha mais toda aquela disposição igual a que eu tinha com vinte anos, no nosso casamento. Eu me senti tão humilhada, tão injustiçada e me senti tão mal, que eu retruquei, já me arrependendo. Eu respondi para o meu homem, com total falta de educação. Ele não merecia isso, e eu não tinha o direito de deixar aquelas palavras saírem de minha boca. Mesmo assim, a briga foi feia. Não quis mais tolerar. Disse a ele que ia embora, para nunca mais voltar. Deixei as crianças com ele, pois delas eu não poderia cuidar sozinha. E eu fui.
Fiquei na casa de uma amiga que morava sozinha em um apartamento no centro. Foi o suficiente para que toda a vizinhança e parte da cidade soubesse de nosso conflito, e também para que eu ficasse mal falada. Uma mulher, casada, morando sozinha com uma solteirona em um apartamento. Quantas coisas não se podia fazer por lá?
Eu tentava ocupar meu tempo, que agora era livre, fazendo outras coisas. Lia, arrumava o apartamento de Lígia, passeava pelo parque. Mas nada disso adiantava. Parecia que havia um espaço enorme vazio em mim. Eu precisava fazer alguma coisa para mim, por mim. Mas eu nem sabia como começar.
Fui ao salão de beleza, mas lá, as conversas das moças eram todas sobre o mesmo assunto... Homens, filhos, empregadas... E falando em filhos, fazia tempo que eu não via os meus. Volta e meia eles apareciam lá na casa de Lígia, e eu dizia para que esperassem, que as coisas iam se aprumar.
Nada adiantava. Eu passava todo o meu grande tempo livre procurando algo que me fizesse feliz, algo que fizesse eu parar de roer unhas, que parasse com essa minha compulsão por servir os outros, de querer o bem estar dos outros antes do meu bem estar. Parecia que eu estava em uma guerra comigo mesma. Meu corpo cansado contra minha alma nova, que não viveu nada de prazeroso até agora.
Grande parte desse tempo livre eu pensava nele. A maioria do tempo era assim. Era a imagem dele que eu via pelos meus olhos, e algumas vezes eu fui até a janela por pensar escutar a voz dele lá embaixo. E se ele não me quisesse mais? E se ele não estivesse sentindo nenhuma falta de mim? E se eu nunca mais pudesse me acalmar satisfazendo ele e servindo ele como ele deveria ser servido?
Foi nessa última pergunta que eu encontrei o meu lugar. Toda essa aflição que eu sentia tinha apenas uma solução: voltar para ele. Assim eu me acalmaria. Fazer para ele o que ele quer, é minha paz.
Então, despedi-me de Lígia, seu apartamento também estava ficando pequeno para nós duas. Eu já estava prejudicando suas visitas de solteira. Agradeci por esse tempo todo, e ela disse que eu poderia voltar sempre que precisasse.
“Sabe, Rosana, têm algumas mulheres que nasceram com defeitos, nasceram diferentes. Mulheres servem para seus homens, mulheres devem achar seus homens. Há aquelas que não acham... Eu sou uma delas. Sou de todos eles, e eles são todos meus. Não há nenhum que me queira. Eu não me importo, pois não sou mulher para isso. Eu sou uma daquelas exceções. Você é a regra. Você nasceu para ter um homem. O seu homem. E você tem. Vá e faça o que você tem que fazer.”
Eu fui embora. Lígia estava certa. Não consigo entender muito bem como é sua vida de solteira, e porque ela quis assim. Vai ver foi o que a vida deu para ela. Pobre Lígia.
Voltei para o meu homem. Quando cheguei em casa uma moça jovem, ruiva de cabelos cacheados, muito branca e muito bela estava saindo. Poderia imaginar que ele não tivesse ficado sozinho esse tempo todo. É o que os homens fazem quando estão sozinhos. Eles não nasceram para ficar sozinhos, embora às vezes estejam. Mas eles sempre têm uma mulher para se consolar, por mais que a escondam do mundo. Essa mulher escondida, é que dá força para este imponente homem aparecer. E vai ser sempre assim. A mulher dá força sem que ninguém a veja, e o homem mostra essa força para que todos vejam.
Acorde
Mesmo parecendo confuso, no momento não estou me sentindo dormente, mas sim, parece que eu estou acordando dessa dormência. As músicas tão fazendo cosquinha no meu peito... Sabe como é? Se você já escutou uma música muito boa e que te fez muito bem, você sabe o que é cosquinha no peito.
Mas mesmo assim, as vezes uma musica muito boa fica sem fazer cosquinha no seu peito. E provavelmente não é a música, mas sim, seu peito. E era disso que eu estava falando.
Quando um sol brilhante não tem mais graça, ou quando a chuva não te causa medo nem tristeza, quando você não se importa com o calor (eu sempre me importo, mas pode ser um sintoma), quando fazer nada passa despercebido, ou quando fazer tudo passa despercebido, acredite: você está dormindo acordado e só você pode se acordar.
Como? Não tenho a mínima idéia. Mas suspeito que seja fazendo alguma coisa diferente, ou ser desafiado por alguém, ou então até descobrir que alguém não te quer.
Nem que seja pra apertar o peito ao invés de fazer uma cosquinha, é bom acordar.
No meu caso, acho que foi porque fugi um pouco da rotina, e fui para a fazenda da minha família. Não to querendo achar um grande significado por trás disso tudo e surpreender ninguém. Não foi que eu descobri que a natureza é extremamente necessária, ou que eu me sinto um pedaço daquele lugar, porque tudo isso eu já sabia. Muito menos pra dizer que o planeta vai se decompor por causa do aquecimento global (porque eu nem sei se vai), nada disso. É muito mais simples: sair da rotina, sair da mesmice, sair do computador (é, verdade), sair das mesmas músicas de sempre, sair, sei lá, só a palavra sair já diz tudo.
A gente não precisa ir pra Disney, Lisboa, Londres, Paris pra sair da rotina. Só ir visitar a Tia que a gente nunca vê, ou a avó que a gente não tem muito contato... Só pra sentir, sabe, aquela cosquinha no peito que eu tanto falo. E eu falo só porque é bom, só por parecer que a gente tem a vida saltitando aqui dentro.